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Vol. 97. Núm. 6.
Páginas 806-808 (1 novembro 2022)
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Páginas 806-808 (1 novembro 2022)
Carta ‐ Investigação
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Testes de contato negativos: o que devemos pensar diante deste resultado?
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Mellanie Starcka, Nathalie Mie Suzukib,
Autor para correspondência
nathalie.suzuki@gmail.com

Autor para correspondência.
, Mariana de Figueiredo Silva Hafnera, Rosana Lazzarinia
a Clínica de Dermatologia, Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
b Faculdade de Ciências Médicas, Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Tabela 1. Distribuição dos pacientes com testes de contato negativos de acordo com a localização da dermatose
Tabela 2. Distribuição dos pacientes com testes de contato negativos de acordo com o diagnóstico final
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Prezado Editor,

Os testes de contato são a melhor ferramenta para a identificação de agentes etiológicos da Dermatite Alérgica de Contato (DAC). Estão indicados na suspeita de DAC, em eczemas crônicos sem etiologia definida, na dermatite de contato ocupacional e na investigação de reações medicamentosas com mecanismo de hipersensibilidade tardia.1 As respostas ao teste de contato são avaliadas por critérios morfológicos já descritos pelo International Contact Dermatitis Research Group (ICDRG). O resultado negativo diante de um paciente com alguma forma de eczema pode ser frustrante; desse modo, é importante conhecermos os diagnósticos diferenciais e os motivos pelos quais um teste pode ser negativo.

Os objetivos deste trabalho foram determinar a frequência de testes de contato negativos nos pacientes com suspeita clínica de DAC, seu perfil epidemiológico e diagnósticos finais. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos sob o número 20285919.1.0000.5479.

Trata‐se de um estudo retrospectivo descritivo com análise de prontuários dos pacientes com dermatite de contato no período de 2013 a 2018 que apresentaram resultados negativos ou reações irritativas para as substâncias testadas. As baterias utilizadas foram selecionadas de acordo com a suspeita diagnóstica: Padrão Brasileira, Cosméticos e Corticoides (FDA Allergenic/Rio de Janeiro, Brasil); Latino‐Americana, Cosméticos Ampliada, Fototeste, Calçados, Metais, Úlceras (Chemotechnique Diagnostics/Vellinge, Suécia); Capilar, Unhas e Anti‐inflamatórios (IPI‐ASAC/São Paulo, Brasil). Os testes foram aplicados no dorso superior do paciente com contensores AlergoChamber™ (Neoflex/Sertãozinho, São Paulo, Brasil). Os dados obtidos foram tabelados e submetidos à análise descritiva dos resultados.

Entre os 694 pacientes submetidos aos testes de contato com hipótese diagnostica de DAC, 116 (16,7%) apresentaram resultado negativo para todas as substâncias testadas, dos quais 72 (62,1%) eram do sexo feminino. As idades variaram de 10 a 89 anos, e com média de 47,6 anos. As localizações da dermatose encontram‐se na tabela 1.

Tabela 1.

Distribuição dos pacientes com testes de contato negativos de acordo com a localização da dermatose

Área corporal acometida 
Mãos  48  18,8 
Braços  29  11,4 
Antebraços  25  9,8 
Pernas  25  9,8 
Pés  25  9,8 
Tronco  23  9,0 
Pescoço  19  7,4 
Coxa  14  5,5 
Rosto  14  5,5 
Pálpebras  11  4,3 
Couro cabeludo  2,7 
Pelve  2,3 
Axila  2,0 
Generalizada  1,6 
Total  255a  100 

Dados: Clínica de Dermatologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 2013‐2018.

a

Alguns pacientes apresentaram mais de uma localização.

Vale ressaltar que 12 pacientes (1,73%) submetidos aos testes de contato encontravam‐se em uso de imunossupressores como metotrexato, corticosteroides, ciclosporina e azatioprina por pelo menos seis meses. Desses, três pacientes (25%) apresentaram resultado negativo para todas as substâncias.

Os diagnósticos finais dos pacientes com teste de contato negativos (tabela 2) foram: 41 (34,2%) com DCI, 21 (17,5%) com DA e 7 (5,9%) com psoríase. Alguns diagnósticos não eczematosos também foram identificados, como a urticária de contato em 3 (2,5%), eritema multiforme e vitiligo em um caso cada (0,8%). Os diagnósticos não foram concluídos em 20 pacientes (16,7%), que apresentaram perda do seguimento ambulatorial ou melhora espontânea das lesões.

Tabela 2.

Distribuição dos pacientes com testes de contato negativos de acordo com o diagnóstico final

Diagnóstico final 
Dermatite de contato irritativa  41  34,2 
Dermatite atópica  21  17,5 
Psoríase  5,8 
Líquen simples crônico  3,3 
Dermatite seborreica  2,5 
Urticária de contato  2,5 
Farmacodermia  2,5 
Dermatite de contato fototóxica  1,7 
Eczema numular  1,7 
Dermatite de estase  1,7 
Disidrose verdadeira  1,7 
Prurido  1,7 
Dermatite perioral  0,8 
Micose fungóide  0,8 
Eritema multiforme  0,8 
Líquen amiloide  0,8 
Síndrome da pele sensível  0,8 
Reação irritativa das vias aéreas superiores  0,8 
Vitiligo  0,8 
Verruga plana  0,8 
Indefinido  20  16,7 
Total  120a  100 

Dados: Clínica de Dermatologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 2013‐2018.

a

Alguns pacientes apresentaram mais de um diagnóstico.

No trabalho atual a DCI foi o principal diagnóstico final encontrado, pois esta é a mais comum entre as dermatites de contato e sua confirmação é feita pelos aspectos clínicos além de testes de contato negativos. Em algumas situações, a realização do teste é feita para exclusão de diagnósticos diferenciais e também para verificar a concomitância de diagnóstico de DAC com outras dermatoses como DA (dermatite atópica) e psoríase, que também se encontram nos diagnósticos finais identificados.

Diante de resultados negativos, é válido ainda considerar falha na técnica, como falta de adesão dos contensores e leitura final em intervalo de tempo menor do que o preconizado além da indisponibilidade do alérgeno suspeito. Questões relacionadas ao produto comercial, utilizado para realizar o exame, podem ter grande influência na resposta, pois a concentração do alérgeno, o veículo e a capacidade do alérgeno em penetrar na pele dependem dos padrões de qualidade da empresa que os produz.

O efeito imunossupressor de medicações e exposição solar previamente ao teste também podem resultar em testes falsamente negativos. Neste estudo, observamos porcentagem maior de testes negativos dentre os pacientes em uso de imunossupressores, comparado ao grupo geral, porém mais estudos neste campo são necessários para compreensão destes resultados.

Observamos que 16,7% dos pacientes testados apresentaram resultados negativos, o que é menor do que o observado na literatura mundial. Já o perfil dos pacientes está de acordo com a literatura, sendo o local mais acometido pela dermatose a mão (18,8%) e o diagnóstico final mais frequente a DCI com 34,2%; à semelhança do que foi encontrado na literatura.2

Em um estudo transversal retrospectivo realizado por Warshaw et al., de 34.822 pacientes testados pelo North American Contact Dermatitis Group (NACDG), quase um terço (31,3%) apresentaram testes de contato com resultados negativos.2 Os estudos documentados pelo European Surveillance System on Contact Allergy (ESSCA) mostram as porcentagens de testes de contato negativos para a série padrão europeia testada pela ESSCA e para as substâncias específicas adicionadas por país foram de: 60% na Dinamarca, 57% no Reino Unido, 54% na Itália, 46% na Áustria.3

Os estudos nacionais em relação à positividade de alérgenos durante o período de 2010, considerando a bateria padrão brasileira, mostram que 59,2% a 64,68% dos pacientes tiveram pelo menos positividade para uma substância.4,5

Em nosso estudo, a maioria dos pacientes avaliados foi submetida não só à bateria padrão brasileira como a baterias adicionais. Isso pode ter contribuído com a porcentagem menor de resultados negativos, quando comparado com a literatura em que se usam como referência os dados de testes apenas com a bateria padrão. Após anamnese minuciosa, os pacientes do ambulatório são submetidos a baterias complementares com o intuito de direcionar a investigação para a etiologia em questão.

A realização de testes de contato diante de uma suspeita clínica auxilia no diagnóstico de sua etiologia na maioria das vezes. Diante de resultado negativo do teste, considerar principalmente outras causas de eczema; dermatite de contato irritativa e DA além de menos frequente os diferenciais não eczematosos. Outro ponto relevante a se considerar é a possibilidade de não se ter testado a substância causadora da DCA. Neste estudo, a maioria dos pacientes foi submetida a baterias adicionais, não apenas à bateria padrão brasileira, o que contribuiu com a porcentagem menor de resultados negativos, quando comparada com a literatura.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Mellanie Starck: Obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura.

Nathalie Mie Suzuki: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Mariana de Figueiredo Silva Hafner: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Rosana Lazzarini: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
R. Lazzarini, I. Duarte, A.L. Ferreira.
Patch tests.
An Bras Dermatol., 88 (2013), pp. 879-888
[2]
E.M. Warshaw, A.J. Zhang, D.V. Belsito, J.F. Fowler Jr., J.S. Taylor, H.I. Maibach, et al.
Patients with negative patch tests: Retrospective analysis of North American Contact Dermatitis Group (NACDG) data 2001‐2016.
J Am Acad Dermatol., 80 (2019), pp. 1618-1629
[3]
W. Uter, W. Aberer, J.C. Armario-Hita, J.M. Fernandez-Vozmediano, F. Ayala, A. Balato, et al.
Current patch test results with the European baseline series and extensions to it from the’European Surveillance System on Contact Allergy’ network, 2007‐2008.
Contact Dermatitis., 67 (2012), pp. 9-19
[4]
D.F. Rodrigues, D.R. Neves, J.M. Pinto, M.F. Alves, A.C. Fulgêncio.
Results of patch‐tests from Santa Casa de Belo Horizonte Dermatology Clinic, Belo Horizonte, Brazil, from 2003 to 2010.
An Bras Dermatol., 87 (2012), pp. 800-803
[5]
D.F. Rodrigues, E.M. Goulart.
Patch test results in children and adolescents. Study from the Santa Casa de Belo Horizonte Dermatology Clinic, Brazil, from 2003 to 2010.
An Bras Dermatol., 90 (2015), pp. 671-683

Como citar este artigo: Starck M, Suzuki NM, Hafner MFS, Lazzarini R. Negative patch tests: What should we think aboutthese results? An Bras Dermatol. 2022;97:806–8.

Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

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