Paciente feminina de 74 anos, compareceu ao ambulatório de dermatologia com história de quatro anos de tumor pigmentado assintomático localizado na região frontal. Ao exame físico, foi observada pápula de 5mm, de coloração marrom‐escura, circundada por borda eritematosa. A história médica anterior não era digna de nota. A dermatoscopia revelou ninhos ovoides azul‐acinzentados, ulcerações e telangiectasias periféricas (fig. 1). O tumor foi clinicamente diagnosticado como carcinoma basocelular pigmentado. Foi realizada biopsia cutânea, e o estudo histopatológico revelou neoplasia epitelial, bem circunscrita, composta por células basofílicas com núcleos hipercromáticos, citoplasma escasso e nucléolos proeminentes. Entremeadas a essas células basaloides, havia múltiplas células com núcleos basofílicos e citoplasma eosinofílico dispostas em pequenos ninhos. Células fantasmas esparsas também foram encontradas. Havia múltiplos melanócitos dendríticos e pigmentados, bem como áreas de queratinização compacta (fig. 2). O estudo imuno‐histoquímico com BerEP4 foi positivo em áreas basaloides. O diagnóstico de matricoma melanocítico foi estabelecido e foi realizada ressecção completa do tumor. A paciente permaneceu clinicamente livre da doença na consulta de seguimento.
Achados histopatológicos. (A) Tumor lobulado bem circunscrito. Hematoxilina & eosina, 4×. (B) Células basaloides, células fantasmas e queratinização compacta. Hematoxilina & eosina, 10×. (C) Células basaloides e numerosos melanócitos dendríticos. Hematoxilina & eosina, 20×. (D) Melanócitos dendríticos pigmentados. Hematoxilina & eosina, 40×.
O matricoma melanocítico é considerado tumor anexial com diferenciação matricial.1,2 Essa neoformação recentemente descrita predomina em homens e está fortemente associada à pele danificada pelo sol em pacientes idosos, com média de idade de 71 anos na apresentação.3,4 Apenas 32 casos foram relatados na literatura internacional. Esse tumor incomum está localizado predominantemente na região cefálica, principalmente no nariz e na área pré‐auricular, mas também foi relatado na região cervical, tronco e extremidades.4 Sua apresentação clínica clássica é descrita como tumor nodular pequeno, bem circunscrito, com pigmentação escura assimétrica.1,4 O matricoma melanocítico é tumor bifásico que compreende um componente epitelial com diferenciação matricial e componente melanocítico com melanócitos dendríticos. O componente epitelial consiste em células basaloides com citoplasma escasso, núcleos redondos, cromatina nuclear pontilhada e nucléolos proeminentes. Essas células basaloides podem adquirir pleomorfismo leve a moderado, com atividade mitótica um pouco elevada, sendo denominadas células matriciais e supramatriciais. Essas células mostram transição abrupta ou gradual para células fantasmas. Em contraste, o componente melanocítico aparece como nódulo bem circunscrito e composto por melanócitos, entremeados com células matriciais e supramatriciais, bem como focos de células fantasmas. O componente epitelial mostra positividade para citoqueratina e beta‐catenina, enquanto os melanócitos dendríticos são imunomarcados por HMB‐45, S‐100 e Melan‐A.5 A maioria dos tumores afeta desde a derme superficial até a profunda, e não apresenta conexão epidérmica ou anexial evidente.1 Os achados histopatológicos e imuno‐histoquímicos sugerem que o matricoma melanocítico se assemelha ao crescimento de fios anágenos. Portanto, o matricoma melanocítico é atualmente classificado como tumor anexial cutâneo com diferenciação folicular e matricial.4
O diagnóstico diferencial clínico inclui carcinoma basocelular, melanoma e hemangioma, mas o principal é o pilomatricoma1 (tabela 1).4,6–8 Esse tumor cutâneo benigno é encontrado predominantemente em mulheres jovens (média de idade de 20 anos); localiza‐se frequentemente na região cervical e nas extremidades e apresenta‐se clinicamente como nódulo subcutâneo multilobulado e firme. Em contraste, o diagnóstico diferencial histopatológico inclui tumores com diferenciação matricial, como pilomatricoma, pilomatricoma pigmentado e carcinoma basocelular com diferenciação matricial (tabela 2).4,9,10
Diagnóstico diferencial do matricoma melanocítico
Matricoma melanocítico | Pilomatricoma | Carcinoma basocelular | Melanoma | |
---|---|---|---|---|
Faixa etária comum | Indivíduos idosos | Crianças, menores de 10 anos | Adultos, idosos | Indivíduos jovens e de meia‐idade |
Gênero | M> F | F> M | M> F | F> M |
Tamanho (cm) | 0,2‐1,5 | 0,5‐3 | 0,5‐10 | Variável |
Características clínicas | Nódulo pigmentado, polipoide ou exofítico, raramente ulcerado | Nódulo solitário, assintomático, de crescimento lento, cístico ou firme | Nódulo ou placa ulcerada de crescimento lento | Mácula ou nódulo assimétrico com bordas irregulares, podendo apresentar variações de coloração dentro da lesão |
Pele danificada pelo sol | Significante | Não significante | Significante | Não significante |
Dermatoscopia | Pigmentação azul homogênea ou em manchas. Aspecto de fork‐shaped glasses | Pigmentação azul, vasos dilatados. | Grandes ninhos ovoides azul‐acinzentados, múltiplos glóbulos azul‐acinzentados, áreas semelhantes a folhas de bordo | Rede atípica, véu azul esbranquiçado, padrão vascular atípico, glóbulos irregulares, estrias irregulares, estruturas de regressão |
Local | Regiões cefálicas e cervical, extremidades superiores | Regiões cefálicas e cervical, extremidades superiores | Regiões cefálicas e cervical, extremidades superiores. (braços e mãos) | Tronco, membros, regiões acrais, região cefálica |
Diferenças histopatológicas entre matricoma melanocítico, pilomatricoma pigmentado e carcinoma basocelular pigmentado com diferenciação matricial
Pilomatricoma pigmentado | Matricoma melanocítico | Carcinoma basocelular pigmentado com diferenciação matricial | |
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Envolvimento epidérmico | Variado | Epiderme adelgaçada ou acantótica hiperceratótica | Variado |
Padrão histopatológico | Nodular ou multinodular com áreas císticas | Nódulo único, sólido e bem definido, geralmente sem áreas císticas | Padrão nodular associado a padrão superficial, ou alterações císticas ou padrão infiltrativo |
Localização na derme | Derme profunda com extensão frequente ao tecido adiposo | Derme reticular superficial e média | Derme com extensão ao tecido subcutâneo em alguns casos |
Tipos de células | Mistura variável de células basaloides, transicionais e fantasmas | Células matriciais e supramatriciais, poucas células fantasmas | Células basaloides foliculares e germinativas, células fantasmas e células matriciais basaloides na periferia |
Tipo de queratinização | Queratinização pilar e às vezes infundibular | Queratinização pilar | Queratinização matricial abrupta central |
Alterações histopatológicas na derme | Tecido conjuntivo: vasos sanguíneos, infiltrado inflamatório misto, células gigantes tipo por corpo estranho | Reação estromal esclerótica, elastose solar | Elastose solar |
Às vezes: hemossiderina, melanina, metaplasia óssea e, raramente, deposição de substância amiloide | |||
Depósitos de cálcio | Em 80% dos casos | Infrequente | Presente em alguns casos |
Reação tipo por corpo estranho | Muito frequente | Infrequente | Infrequente |
Células fantasmas | No centro do tumor, quase sempre presentes | Presentes em pequenos focos misturados com melanócitos dendríticos pigmentados | Presentes na maioria dos tumores |
Mitoses | Pode haver atipias citológicas e mitoses | Pode haver atipias citológicas e mitoses | Apresenta atipia citológica e muitas mitoses |
Melanina | Melanina em geral ausente; alguns melanócitos dendríticos | Melanófagos pigmentados no interior e melanócitos dendríticos distribuídos assimetricamente | Células tumorais com melanina no citoplasma. Melanócitos intratumorais não são proeminentes |
A importância do reconhecimento desse tumor recentemente descrito baseia‐se no seu prognóstico desconhecido e na falta de opções de tratamento, além da cirurgia. Portanto, é importante considerar o matricoma melanocítico em pacientes idosos, com pele danificada pelo sol e com neoplasia pigmentada recém‐descoberta, além de carcinoma basocelular pigmentado e melanoma, necessitando de margens cirúrgicas mais amplas e seguimento mais próximo. É essencial relatar todos os casos de matricoma melanocítico para estabelecer seu curso clínico e fatores prognósticos.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresTeresa Alonso‐de‐León: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.
Carlos Barrera‐Ochoa: Revisão crítica da literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados.
Luis Enrique Cano‐Aguilar: Elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.
Katia Lizette Munguia‐Galeano: Revisão crítica da literatura.
Jorge Felipe Flores‐Ochoa: Revisão crítica da literatura.
Maria Elisa Vega‐Memije: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Alonso‐de‐León T, Barrera‐Ochoa C, Cano‐Aguilar LE, Munguia‐Galeano KL, Flores‐Ochoa JF, Vega‐Memije ME. Melanocytic matricoma: a pigmented lesion on the forehead. An Bras Dermatol. 2024;99:769–72.
Trabalho realizado no General Hospital “Dr. Manuel Gea González”, Cidade do México, México