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Vol. 94. Núm. 5.
Páginas 586-589 (1 setembro 2019)
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Vol. 94. Núm. 5.
Páginas 586-589 (1 setembro 2019)
Caso Clínico
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Hanseníase virchowiana, melanoma e carcinoma basocelular: associação clínico‐histopatológica
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Cintia Santos Braghirolia, Maria Rita Parise‐Fortesa, Mariângela Esther Alencar Marquesb, Joel Carlos Lastóriaa,
Autor para correspondência
lastoria@fmb.unesp.br

Autor para correspondência.
a Departamento de Dermatologia e Radioterapia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
b Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil
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Resumo

Neoplasias cutâneas são observadas em pacientes com hanseníase. No entanto, há poucos relatos da coexistência de hanseníase e carcinoma basocelular na mesma lesão. Relatamos o caso de um paciente masculino de 49 anos com placa eritematosa e exulcerada na região nasal direita, pápulas brilhantes na região esternal e placa enegrecida na região temporal direita. À histopatologia, as lesões nasal e temporal foram diagnosticadas como carcinoma basocelular e melanoma, respectivamente. As lesões esternais, excisadas com correção da dog‐ear, mostraram bacilos íntegros com formação de globias, confirmaram o diagnóstico de hanseníase virchowiana. O presente caso ressalta a importância do envio para análise histopatológica do fragmento referente à dog‐ear.

Palavras‐chave:
Carcinoma basocelular
Hanseníase
Melanoma
Texto Completo
Introdução

O carcinoma basocelular (CBC) é o tumor maligno de pele mais comum –epresenta 75% dos tumores malignos cutâneos – e ocorre frequentemente em áreas fotoexpostas, como face e pescoço de pacientes acima dos 50 anos.1,2 O melanoma é o tumor de pele mais agressivo e representa 10% dos diagnósticos de neoplasias cutâneas.3 Embora menos comum, é mais agressivo do que o CBC.4

A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, parasita intracelular obrigatório que afeta pele e nervos periféricos com tropismo para macrófagos e células de Schwann. A doença é transmitida por meio do contato prolongado com pacientes bacilíferos sem tratamento.5,6 A coexistência do M. leprae e de neoplasia maligna cutânea na mesma lesão é rara, mas já foi documentada.7

No presente caso, foi feito o diagnóstico de hanseníase por meio de achado histopatológico no fragmento da dog‐ear excisada durante a exérese de um CBC. Os autores descrevem a tripla associação de CBC, melanoma e hanseníase virchowiana em um paciente sem imunodeficiência previamente conhecida.

Relato do caso

Paciente masculino, 49 anos, jardineiro, apresentava lesão extensa e ulcerada na região nasal esquerda por três anos e outra lesão na região esternal por cinco anos. Negava antecedentes pessoal e familiar de câncer de pele e uso de filtro solar. A lesão nasal era caracterizada por placa de aspecto cicatricial que acometia a pirâmide nasal, com pápulas na superfície, crostas melicéricas e exulcerações. Havia também placa enegrecida na região temporal direita de aproximadamente 4cm, que, à dermatoscopia, mostrava véu azul‐acinzentado, crisálidas, glóbulos e estrias na periferia. Fez‐se biópsia incisional das lesões nasal e temporal direita, confirmou os diagnósticos de CBC nodular ulcerado e melanoma, respectivamente (fig. 1). A lesão esternal apresentava pápulas eritematorróseas e superfície brilhante e foi excisada completamente pela feitura de uma elipse, com necessidade de correção da dog‐ear, que também foi enviado para análise histopatológica (fig. 2). O laudo das lesões foi consistente com CBC e o fragmento referente à dog‐ear revelou pesquisa positiva de BAAR com a presença de numerosos bacilos íntegros e granulosos que formavam globias, confirmaram o diagnóstico de hanseníase virchowiana (fig. 3). Ao exame físico, o paciente apresentava madarose ciliar e terminal da sobrancelha, além de infiltração na região frontal e no lobo das orelhas e espessamento bilateral do nervo ulnar. Foi iniciado tratamento para hanseníase virchowiana com poliquimioterapia (PQT: dapsona, rifampicina e clofazimina) e feita a exérese total das lesões nasal e temporal. O laudo do melanoma demonstrou fase vertical de crescimento, com espessura de Breslow de 1,2mm e nível IV de Clark.

Figura 1.

A, Carcinoma basocelular (CBC)‐ nasal; Melanoma‐ região temporal direita; B, CBC‐ Ninhos de células basaloides (Hematoxilina & eosina, 10×); C, Paliçada periférica (Hematoxilina & eosina, 100×); D, Melanoma – ninhos de melanócitos atípicos e disseminação pagetoide (Hematoxilina & eosina, 200×).

(0.47MB).
Figura 2.

A, Carcinoma basocelular na região esternal; B, Exérese; C, Correção da dog‐ear.

(0.21MB).
Figura 3.

Anatomopatológico da dog‐ear:A, Infiltrado inflamatório superficial e profundo, perianexial; linfócitos e macrófagos com citoplasma vacuolizado (Hematoxilina & eosina, 400×); B, Delaminação do perineuro com infiltrado de linfócitos e macrófagos (Hematoxilina & eosina, 400×); C, Pesquisa de BAAR positiva, com bacilos íntegros e formação de globias (Fite‐Faraco, 1000×).

(0.35MB).
Discussão

O CBC é o tumor de pele mais prevalente e a exposição à radiação UV é o principal fator de risco para seu desenvolvimento. O sistema imune é fundamental na prevenção e no controle dos tumores de pele – seu surgimento parece estar diretamente ligado com a imunossupressão, causada pelo efeito cumulativo da radiação UV, que age como supressora da resposta imune tanto local quanto sistêmica.8

Neoplasias malignas cutâneas causadas por úlcera trófica em pacientes com hanseníase virchowiana, como melanoma nodular e carcinoma espinocelular, são muito raras e poucos casos foram descritos na literatura.9,10

Na literatura, não existem relatos sobre se a imunossupressão de pacientes com hanseníase virchowiana favorece uma disseminação mais agressiva das lesões malignas. Como a resposta imune é específica ao M. leprae, sugere‐se que esse fator poderia não estar associado ao desenvolvimento de tumores malignos da pele ou à suscetibilidade para outros patógenos infecciosos.

No presente caso, sugere‐se que a coexistência do M. leprae e de tumores cutâneos na mesma área é provavelmente secundária à grande quantidade de bacilos, embora na pele da margem de segurança das lesões do CBC nasal e do melanoma da região temporal não tenham sido encontrados bacilos.

O paciente apresentava sinais clínicos da hanseníase virchowiana, como madarose ciliar e terminal da sobrancelha, infiltração na região frontal e no lobo das orelhas e espessamento bilateral do nervo ulnar. Esses sinais clínicos da hanseníase já deveriam ter sido observados antes dos tumores, já que o diagnóstico da doença é baseado nos sintomas clínicos. Diagnóstico precoce e tratamento específico são essenciais para interromper a cadeia de transmissão da doença.

Este relato de caso mostra a importância do exame dermatológico completo e relata a associação entre hanseníase multibacilar e neoplasias cutâneas malignas, ainda muito pouco compreendida.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Cintia Santos Braghiroli: participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Maria Rita Parise‐Fortes: obtenção, análise e interpretação dos dados.

Mariângela Esther Alencar Marques: obtenção, análise e interpretação dos dados.

Joel Carlos Lastória: participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Conflito de interesses

Nenhum.

Agradecimentos

Ao Dr. Hamilton Ometto Stolf, pela contribuição cirúrgica, e a Eliete Correa Soares, pela contribuição fotográfica.

Referências
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Nodular melanoma in trophic ulceration of a leprosy patient: A case study.
J Wound Care., 25 (2016), pp. 250-253

Como citar este artigo: Braghiroli CS, Parise‐Fortes MR, Marques MEA, Lastória JC. Lepromatous leprosy, melanoma, and basal cell carcinoma: clinical‐histopathologic association. An Bras Dermatol. 2019;94:586–9.

Trabalho feito na Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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