Compartilhar
Informação da revista
Vol. 99. Núm. 4.
Páginas 594-597 (1 julho 2024)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
1905
Vol. 99. Núm. 4.
Páginas 594-597 (1 julho 2024)
Cartas ‐ Investigação
Acesso de texto completo
Fatores prognósticos e tempo de sobrevida de pacientes com melanoma atendidos em hospital de referência na Amazônia
Visitas
1905
Amanda Gabay Moreiraa, Antonio Vitor da Silva Freitasa, Carla Andrea Avelar Piresb,
Autor para correspondência
carlaavelarpires@gmail.com

Autor para correspondência.
a Departamento de Medicina, Universidade do Estado do Pará, Belém, PA, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Universidade do Estado do Pará, Belém, PA, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Tabelas (1)
Tabela 1. Características clínicas segundo a presença de metástases em pacientes de melanoma atendidos em serviço de referência (Belém/PA, 2015‐2020)
Texto Completo
Prezado Editor,

O melanoma é responsável por 90% das mortes por câncer de pele. No Brasil, em 2020, foram registrados 4.250 novos casos em mulheres e 4.200 em homens; a região Norte foi responsável por 190 desses casos, e o estado do Pará, por 26,50% deles.1

Existem fatores de riscos individuais para os melanomas, como numerosos nevos displásicos, história familiar e fototipos menores na escala de Fitzpatrick.2 A taxa de sobrevida em cinco anos para pacientes com melanoma in situ é maior que 90%, enquanto para aqueles com doenças regionais e metástases a distância a sobrevida em cinco anos é de 62% e 16%, respectivamente.1,2

O objetivo deste estudo é descrever e correlacionar o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes com melanoma cutâneo primário no Hospital Ophir Loyola, centro de referência em câncer na Amazônia. Além disso, identificar os tipos de melanoma e correlaciona‐los com a presença de metástase, comparando com os níveis de Clark e os índices de Breslow; identificar o tempo de sobrevida dos pacientes e correlacionar com os parâmetros supracitados e a presença de linfonodos satélites.

Os dados foram coletados retrospectivamente. Para a avaliação de presença de metástase foi utilizado o teste G, e para a análise de sobrevida foram geradas curvas de sobrevivência segundo o método de Kaplan‐Meier para a amostra total, utilizando o teste Log‐Rank para comparação de curvas. O hazard ratio foi calculado considerando sexo, idade, fototipo e níveis de Clark. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, mediante parecer n° 5.156.829.

Foram avaliados 91 prontuários, durante o período de janeiro de 2015 a dezembro de 2020, com perfil epidemiológico classificado de acordo com gênero, faixa etária e fototipo. Ao analisar os dados clínicos, observou‐se significância (p < 0,05) tanto na avaliação dos tipos de melanoma quanto na classificação dos níveis de Clark e índices de Breslow, ao serem correlacionados com a presença ou não de metástases (tabela 1). Trinta e um pacientes apresentaram metástases; os principais sítios foram o sistema nervoso central, pulmonar e partes moles. Foram avaliadas a sobrevida geral (fig. 1) dos pacientes diagnosticados com melanoma, bem como a sobrevida dos pacientes de acordo com os índices de Breslow (fig. 2) e naqueles com ou sem a presença de linfonodos satélites (fig. 3).

Tabela 1.

Características clínicas segundo a presença de metástases em pacientes de melanoma atendidos em serviço de referência (Belém/PA, 2015‐2020)

Características clínicasCom metástaseSem metástasep‐valor
Sexo           
Masculino  17  54,84  24  40,00  Teste G 
Feminino  14  45,16  36  60,00  0.2606 
Total  31  100,00  60  100,00   
Faixa etária           
20 a 30 anos  –  –  3,33  Teste G 
31 a 40 anos  3,23  6,67  0,4307 
41 a 50 anos  22,58  13,33   
51 a 60 anos  29,03  16  26,67   
61 a 70 anos  16,13  13,33   
71 a 80 anos  22,58  10  16,67   
Maior de 80 anos  6,45  12  20,00   
Total  31  100,00  60  100,00   
Fototipo           
16,13  3,33  Teste G 
II  12,90  11,67  0,3050 
III  29,03  15  25,00   
IV  25,81  21  35,00   
–  –  1,67   
VI  –  –  3,33   
Sem informação  16,13  12  20,00   
Total  31  100,00  60  100,00   
Tipo de melanoma           
Acral lentiginoso  10  32,26  17  28,33  Teste G 
Extensivo superficial  6,45  17  28,33  0,0268 
Lentigo maligno  6,45  11  18,33   
Nodular  13  41,94  15  25,00   
Sem informação  12,90  –  –   
Total  31  100,00  60  100,00   
Níveis de Clark           
–  0,00  15,00  Teste G 
–  0,00  13,33  0,0001 
9,68  12  20,00   
12  38,71  21  35,00   
16  51,61  10  16,67   
Total  31  100,00  60  100,00   
Índice de Breslow           
Menor que 1 mm  –  0,00  17  28,33  Teste G 
1 a 2 mm  9,68  13  21,67  < 0,0001 
3 a 4 mm  6,45  13,33   
Maior que 4 mm  26  83,87  22  36,67   
Total  31  100,00  60  100,00   
Figura 1.

Sobrevida geral em pacientes de melanoma atendidos em serviço de referência (Belém/PA, 2015‐2020).

(0.05MB).
Figura 2.

Sobrevida segundo índice de Breslow em pacientes de melanoma atendidos em serviço de referência (Belém/PA, 2015‐2020).

(0.11MB).
Figura 3.

Sobrevida segundo a presença de linfonodos satélites em pacientes de melanoma atendidos em serviço de referência (Belém/PA, 2015‐2020).

(0.17MB).

Após a avaliação dos dados, foi possível identificar leve predominância naqueles que apresentavam fototipo III e IV (p < 0,0001). Esses dados divergem da literatura, que aponta maior incidência de melanoma em pacientes com fototipos mais claros (I e II), em virtude da menor capacidade de bronzear e maior propensão a queimar. É válido ressaltar que os fototipos descritos como mais frequentes são os de maior prevalência na região Norte do Brasil, como descrito no censo brasileiro de 2010, o que torna um viés para sua análise exclusiva como fator de risco e não exclui que a doença aconteça.3

Quanto à faixa etária, nota‐se concordância do aumento dos diagnósticos com o avançar da idade. Verificou‐se que 50% dos pacientes avaliados tinham mais de 60 anos, corroborando com a literatura, a qual indica a idade como importante fator de risco para melanoma e mortalidade decorrente de melanoma, em virtude da exposição excessiva ao sol e dano acumulativo, por vezes associado a nevos displásicos.1,3

Houve maior prevalência do subtipo nodular, bem como sua associação com a presença de metástase (42% dos casos). Esses dados ratificam a literatura, à medida que esses tumores são caracterizados por crescimento rápido e alta taxa de mortalidade, responsáveis por cerca de 40% das mortes por melanoma, considerado um dos subtipos mais agressivos.4 Esse tipo de lesão não apresenta fase de crescimento radial reconhecível, o que dificulta seu reconhecimento em fases iniciais.5 O subtipo acral lentiginoso foi o segundo mais associado com metástase (32,26%), o que é justificado por suas características histopatológicas – quando comparado ao extensivo superficial,6 o subtipo acral lentiginoso apresenta fatores preditivos de pior prognóstico, como maior número de macrófagos em áreas peritumoral e intratumoral, que influenciam a espessura tumoral, ulceração, taxa mitótica e metástase.7

Observou‐se significância estatística para a presença de metástase em mais da metade dos pacientes em que o tumor atingia > 4 mm de profundidade ou estágio IV de Breslow (p=0,0001), bem como lesava o tecido celular subcutâneo ou nível 5 de Clark (p=0,0001). Essa correlação é sustentada pela literatura – quanto maior o grau de profundidade e extensão nos tecidos adjacentes, maior é a chance de metástase.8

A sobrevida dos pacientes é influenciada por diversos fatores de pior prognóstico, desde características gerais, como a idade, até subtipo tumoral e sua capacidade mitótica.9 Verificou‐se que menos de 50% dos pacientes com extensão tumoral > 4 mm (p=0,0001) e que atingiam tecido celular subcutâneo (p=0,0004) alcançaram a sobrevida de cinco anos. A espessura de Breslow é a considerada mais importante para a ocorrência de metástases, e está associada diretamente com o índice mitótico da neoplasia.10

Além disso, pacientes que apresentaram linfonodos satélites tiveram sobrevida média de apenas três anos após o diagnóstico. Pode‐se esperar menor sobrevida em pacientes com indicação de biopsia de linfonodos sentinelas, no sentido que são fatores de risco para menor tempo livre de doença, como índices de Breslow ≥ 1 mm e índice mitótico ≥ 5 mm2.8 Importante salientar que 74 pacientes deste estudo apresentaram esses critérios, e foram, então, submetidos à pesquisa de linfonodos sentinelas. Por fim, ainda com as altas prevalências de subtipos mais invasivos e a presença de fatores de pior prognóstico, a sobrevida geral dos pacientes no serviço de referência mostrou que mais de 50% dos pacientes alcançaram a sobrevida de cinco anos.

Este estudo, portanto, fundamenta as diferenças clínicas e epidemiológicas existentes nos diversos serviços do país, bem como abre espaço para novas hipóteses e pesquisas voltadas para a área da Dermatologia Oncológica. Ressalta‐se, especialmente, em virtude da alta frequência de formas nodulares e acrais, com índice de Breslow > 4 mm, a importância da conscientização dos profissionais da Saúde e do investimento em campanhas de prevenção primária, haja vista que essas condições são responsáveis por 33% de metástases durante o seguimento. Isso, por vezes, recai na criação de um fluxo de sistema de Saúde mais ágil e eficaz.

O estudo teve como principais limitações a pequena amostragem e, sem dúvidas, o acesso aos dados, que estavam em prontuários físicos, grande parte separados e sem estadiamento, o qual foi feito pelos pesquisadores com os exames anexados.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Amanda Gabay Moreira: Revisão crítica de literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Antônio Vitor Da Silva Freitas: Revisão crítica de literatura; obtenção, análise e interpretação dos dados; análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.

Carla Andrea Avelar Pires: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
S. Behbahani, S. Maddukuri, J.B. Cadwell, W.C. Lambert, R.A. Schwartz.
Gender differences in cutaneous melanoma: demographics, prognostic factors, and survival outcomes.
Dermatol Ther., 33 (2020), pp. e14131
[2]
K.S.M. Purim, M.V. DE-PrÁ, D.C. Bahr, G.S. Hayakawa, G.H. Rossi, L.P. Soares.
Survival analysis of children and adolescents with melanoma.
Rev Col Bras Cir., 47 (2020), pp. e20202460
[3]
A.C. de Melo, A.J.A. Wainstein, A.C. Buzaid, L.C.S. Thuler.
Melanoma signature in Brazil: epidemiology, incidence, mortality, and trend lessons from a continental mixed population country in the past 15 years.
Melanoma Res., 28 (2018), pp. 629-636
[4]
A.C. Porto, T. Pinto Blumetti, I.D.A. Oliveira Santos Filho, V.F. Calsavara, J.P. Duprat Neto, J.C. Tavoloni Braga.
Primary cutaneous melanoma of the scalp: patterns of clinical, histological and epidemiological characteristics in Brazil.
PLoS One., 15 (2020), pp. e0240864
[5]
A.H. Shain, B.C. Bastian.
From melanocytes to melanomas.
Nat Rev Cancer., 16 (2016), pp. 345-358
[6]
N. Miolo, R.F. Rodrigues, E.R.D. Silva, P.K. Piati, O.A. Campagnolo, L.F. Marques.
Skin cancer incidence in rural workers at a reference hospital in western Paraná.
An Bras Dermatol., 94 (2019), pp. 157-163
[7]
P. Basurto-Lozada, C. Molina-Aguilar, C. Castaneda-Garcia, M.E. Vázquez-Cruz, O.I. Garcia-Salinas, A. Álvarez-Cano, et al.
Acral lentiginous melanoma: basic facts, biological characteristics and research perspectives of an understudied disease.
Pigment Cell Melanoma Res., 34 (2021), pp. 59-71
[8]
P.H.D.M. Brandão, E. Bertolli, E. Doria-Filho, I.D.A.O. Santos Filho, M.P. de Macedo, C.A.L. Pinto, et al.
In transit sentinel node drainage as a prognostic factor for patients with cutaneous melanoma.
J Surg Oncol., 117 (2018), pp. 864-867
[9]
D.M. Hyams, R.W. Cook, A.C. Buzaid.
Identification of risk in cutaneous melanoma patients: prognostic and predictive markers.
J Surg Oncol., 119 (2019), pp. 175-186
[10]
A.C.F.P. Cherobin, A.J.A. Wainstein, E.A. Colosimo, E.M.A. Goulart, F.V. Bittencourt.
Prognostic factors for metastasis in cutaneous melanoma.
An Bras Dermatol., 93 (2018), pp. 19-26

Como citar este artigo: Moreira AG, Freitas AVS, Pires CAA. Prognostic factors and survival of patients with melanoma treated at a reference hospital in the Brazilian Amazon region. An Bras Dermatol. 2024;99:597–600.

Trabalho realizado no Hospital Ophir Loyola (HOL), Belém, PA, Brasil.

Copyright © 2024. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.