O diagnóstico de tinha incógnita resultante do abuso de corticoides está se tornando muito comum nos trópicos. Seu diagnóstico é complicado devido à morfologia confusa, bem como questões práticas e técnicas associadas a testes micológicos. A dermatoscopia se apresenta como uma nova ferramenta para o diagnóstico de tinha incógnita em situações desafiadoras, já que as alterações capilares típicas, como cabelos em código Morse, cabelos deformáveis, cabelos translúcidos, cabelos em vírgula em saca‐rolhas e descamação perifolicular podem ser observadas apesar do uso de esteroides e independentemente dos resultados micológicos.
O abuso de corticosteroides tópico não apenas dificulta o manejo terapêutico, mas também está contribuindo para a crescente epidemia de falha terapêutica antifúngica.1,2 A utilidade da dermatoscopia no diagnóstico rápido da tinha do couro cabeludo está bem estabelecida.3 No entanto, o diagnóstico dermatoscópico de tinha do corpo, especialmente a variante incógnita, tem sido pouco relatado.4
Um estudante de graduação médica de 22 anos de idade apresentava lesões vermelho‐rosadas e com prurido na axila direita, com início havia quatro meses. A lesão apresentava bordas mal definidas e superfície brilhante com pápulas levemente escamosas, dispersas perifericamente (fig. 1). Ele estava se automedicando com creme de clobetasol‐miconazol e itraconazol oral 200mg/dia, de forma intermitente. A dermatoscopia com luz polarizada indicou eritema irregular, escamas e estruturas tubulares perifoliculares, pontos pretos, cabelos quebrados, cabelos deformáveis dobrados, cabelos em código Morse, cabelos em vírgula e em saca‐rolhas e cabelos translúcidos; além disso, foram observados vasos pontiformes e telangiectasias (fig. 2). Essas alterações dermatoscópicas tipificam a tinha da pele não glabra.2–5 Raspados cutâneos foram enviados para cultura fúngica e apresentaram hifas ramificadas septadas na microscopia com KOH a 10%. O uso de terbinafina 250mg/dia (oral) e creme de ciclopirox olamina a 1% por seis semanas resultou em resolução completa. Trichophyton mentagrophytes var. interdigitale foi confirmado em cultura.
Imagem clínica de lesão de tinha incógnita na axila direita de um paciente jovem, do sexo masculino – placa eritematosa minimamente elevada, com bordas mal definidas, superfície brilhante com pápulas levemente escamosas e perifericamente dispersas. As lesões surgiram quatro meses antes; o paciente apresentava histórico de aplicação intermitente de creme antifúngico esteroide e ingestão oral de itraconazol.
A imagem dermatoscópica com luz polarizada da lesão revelou eritema irregular, escamas perifoliculares (seta verde) e estruturas tubulares (seta vermelha), pontos pretos, cabelos quebrados e cabelo em vírgula e em saca‐rolhas (setas azuis). O campo inteiro é preenchido por cabelos translúcidos e deformáveis encurvados (setas amarelas), e cabelos em código Morse mostrando faixas brancas horizontais salteadas. Além disso, vasos puntiformes (círculo verde) e telangiectasias dispersas (setas verdes) foram observados. As manchas vermelhas maiores representam crostas de sangue ressecadas induzidas por escoriação. (Dermlite 4,20×).
Alterações da morfologia, questões logísticas da microscopia óptica e o longo tempo para obtenção dos resultados da cultura fúngica favorecem o uso de uma ferramenta clínica rápida, como a dermatoscopia, para diagnosticar tinha incógnita.1,2 A invasão fúngica do cabelo causa deformação e alterações que se apresentam como cabelos translúcidos, cabelos deformáveis, cabelos em vírgula e em saca‐rolhas e cabelos em código Morse com faixas brancas horizontais salteadas (invasão localizada).3–5 A dermatoscopia é um método não invasivo e simples que possibilita um rápido diagnóstico in vivo da tinha incógnita.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresSidharth Sonthalia: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Balachandra S. Ankad: Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Mohamad Goldust: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Abhijeet Kumar Jha: Aprovação da versão final do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.