Compartilhar
Informação da revista
Vol. 95. Núm. 1.
Páginas 95-97 (1 janeiro 2020)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
9944
Vol. 95. Núm. 1.
Páginas 95-97 (1 janeiro 2020)
Imagens em Dermatologia
Open Access
Dermatoscopia do fenômeno de Borst‐Jadassohn no hidroacantoma simples
Visitas
9944
Bruno de Castro e Souzaa,
Autor para correspondência
brunocastro1990@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Maria Cláudia Alves Luceb, Thais do Amaral Carneiro Cunhab,c, Neusa Yuriko Sakai Valenteb
a Departamento de Dermatologia do Hospital do Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
b Departamento de Dermatologia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
c Programa de Residência em Dermatologia do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
Este item recebeu

Under a Creative Commons license
Informação do artigo
Resume
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (5)
Mostrar maisMostrar menos
Resumo

O fenômeno de Borst‐Jadassohn é um achado morfológico que consiste na presença de ninhos bem definidos de células localizados no estrato espinhoso de uma epiderme acantótica. Uma das neoplasias em que se encontra o fenômeno de Borst‐Jadassohn é o hidroacantoma simples. Essa neoplasia é considerada a forma intraepidérmica do poroma écrino. Apesar de sua natureza benigna, transformações malignas são relatadas. No presente artigo relata‐se um caso de hidroacantoma simples e faz‐se uma discussão sobre a dermatoscopia desse fenômeno pouco descrito e discutido.

Palavras‐chave:
Dermatologia
Dermoscopia
Poroma
Texto Completo
Introdução

O fenômeno de Borst‐Jadassohn (FBJ) é achado morfológico que consiste na presença de ninhos bem definidos de células localizadas no estrato espinhoso de uma epiderme acantótica. Algumas neoplasias, malignas ou benignas, podem apresentá‐lo, como a queratose seborreica (QS) clonal, a doença de Bowen (DB) clonal, a doença de Paget, o porocarcinoma ou o hidroacantoma simples (HS).

A distinção entre essas entidades, tanto do ponto de vista clínico quanto histopatológico, por vezes é um desafio. Tal fato pode trazer consequências, já que o manejo delas é diferente. A dermatoscopia do FBJ foi pouco relatada. Desse modo, achamos interessante fazer sua descrição no HS.

Relato do caso

Homem, 88 anos, procurou o serviço de Dermatologia com queixa de lesão assintomática na região glútea direita, com tempo de evolução desconhecido.

Ao exame dermatológico, observou‐se uma placa rósea levemente elevada com limites irregulares, porém evidentes e com pequena área de exulceração (fig. 1). À dermatoscopia era possível observar, além da exulceração, várias estruturas arredondadas marrons e bem delimitadas, circundadas por vasos em ponto (figs. 2 e 3).

Figura 1.

Placa rósea levemente elevada com limites irregulares, porém evidentes e com pequena área de exulceração localizada na região glútea.

(0.06MB).
Figura 2.

Imagem panorâmica da dermatoscopia mostra várias estruturas arredondadas, marrons e bem delimitadas, circundadas por vasos em ponto. Área exulcerada pode ser vista.

(0.07MB).
Figura 3.

Detalhe das mesmas estruturas na dermatoscopia.

(0.06MB).

Fez‐se biópsia incisional da lesão com hipóteses diagnósticas de QS e DB. A histopatologia mostrou clones de células basaloides sem atipias em meio às células espinhosas (fig. 4). Foram consideradas as possibilidades de HS e QS clonal. A expressão de antígeno carcinoembrionário (CEA) e antígeno da membrana epitelial (EMA) nas células basaloides e em estruturas ductais presentes em meio a essas células, no exame imuno‐histoquímico, permitiu o diagnóstico de HS.

Figura 4.

Proliferação intraepitelial bem circunscrita de células arredondadas e basofílicas (Hematoxilina & eosina 200×).

(0.05MB).
Discussão

No início do século XX, Borst e Jadassohn descreveram, de maneira independente, neoplasias que se caracterizavam por apresentar ninhos celulares bem demarcados localizados na epiderme. Acreditou‐se tratar de um tipo específico de tumor e cunhou‐se o nome de epitelioma intraepitelial de Borst‐Jadassohn. A partir de estudos morfológicos e imuno‐histoquímicos, a maioria dos autores, atualmente, acredita que essa entidade representa um fenômeno morfológico, não é específico de determinada neoplasia. Por isso, prefere‐se designá‐lo como FBJ. Conceitua‐se esse fenômeno como a presença de ilhas bem definidas de células epiteliais, típicas ou atípicas, dentro de uma epiderme acantótica que pode ser evidenciada em algumas condições benignas ou malignas.1

Uma das neoplasias em que se encontra o FBJ é o HS. Essa neoplasia é considerada a forma intraepidérmica do poroma écrino.2 Apesar de sua natureza benigna, transformações malignas são relatadas em alguns casos, o que leva à discussão se sua excisão precoce seria obrigatória.3

Clinicamente, é frequentemente confundido com QS. Essa confusão pode persistir na histopatologia e não é infrequente o diagnóstico inicial de QS clonal. Observa‐se uma proliferação intraepitelial bem circunscrita de células arredondadas e basofílicas muito semelhante ao que acontece nas QS clonal, que apresenta FBJ. À imuno‐histoquímica, a positividade para CEA e EMA nos casos de HS auxilia na diferenciação.4

Shiiya et al. descreveram quatro casos de HS e discutiram as principais alterações dermatoscópicas, com o objetivo central de distingui‐lo da DB e da QS.5 Os autores concluíram que os achados de pequenos glóbulos pretos (75% dos casos) e finas escamas distribuídas de forma anular (100%) eram característicos. Além disso, a ausência de vasos glomerulares no HS ajudaria na distinção da DB, já que tais vasos encontrados de maneira agrupada são altamente sugestivos dessa última.

No caso relatado encontramos a presença de vasos em ponto distribuídos em círculo ao redor de estruturas arredondadas e amarronzadas. Representa, na correlação da dermatoscopia com a histopatologia, proliferação de vênulas próximo aos blocos de células clonais. Vasos em ponto, quando em lesões que não sejam melanocíticas, são inespecíficos, porém o padrão encontrado na lesão descrita pode ser peculiar.6 Já as estruturas arredondadas representam os ninhos de células clonais intraepidérmicos melanizadas, correspondem ao FBJ. Embora na coloração de hematoxilina e eosina não pudesse ser vista a presença do pigmento, quando feita a coloração de Fontana‐Masson observou‐se grande quantidade de melanina nos blocos (fig. 5).

Figura 5.

Ninho de células basaloides com quantidade considerável de melanina. Esse fenômeno é observado na dermatoscopia como as áreas marrons (Fontana Masson 200×).

(0.08MB).

O presente estudo vem contribuir para, além de revisar conceitos do FBJ, descrever as alterações dermatoscópicas de tal fenômeno no HS, um dos principais tumores que o desenvolvem.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Bruno de Castro e Souza: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura.

Maria Cláudia Alves Luce: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.

Thais do Amaral Carneiro Cunha: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.

Neusa Yuriko Sakai Valente: Participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Referências
[1]
V. Lora, B. Chouvet, J. Kanitakis.
The “Intraepidermal Epithelioma” Revisited: Immunohistochemical Study of the Borst‐Jadassohn Phenomenon.
Am J Dermatopathol., 33 (2011), pp. 492-497
[2]
M. Battistella, L. Langbein, B. Peltre, B. Cribier.
From Hidroacanthoma Simplex to Poroid Hidradenoma: Clinicopathologic and Immunohistochemic Study of Poroid Neoplasms and Reappraisal of Their Histogenesis.
Am J Dermatopathol., 32 (2010), pp. 459-468
[3]
J.B. Lee, C.K. Oh, H.S. Jang, M.B. Kim, B.S. Jang, K.S. Kwon.
A case of porocarcinoma from pre‐existing hidroacanthoma simplex: need of early excision for hidroacanthoma simplex?.
Dermatol Surg., 29 (2003), pp. 772-774
[4]
K.C. Furlan, P. Kakizaki, J.C.N. Chartuni, J.A. Sittart, N.Y.S. Valente.
Hidroacantoma simples: Dermatoscopia e Criocirurgia.
An Bras Dermatol., 92 (2017), pp. 256-258
[5]
C. Shiiya, H. Hata, Y. Inamura, K. Imafuku, S. Kitamura, H. Fujita, et al.
Dermoscopic features of hidroacanthoma simplex: Usefulness in distinguishing it from Bowen's disease and seborrheic keratosis.
J Dermatol., 42 (2015), pp. 1002-1005
[6]
E. Ayhan, D. Ucmak, Z. Akkurt.
Vascular structures in dermoscopy.
An Bras Dermatol., 90 (2015), pp. 545-553

Como citar este artigo: Souza BC, Luce MAC, Cunha TAC, Valente NYS. Dermatoscopy of the Borst‐Jadassohn phenomenon in the hidroacanthoma simplex. An Bras Dermatol. 2020;95:95–7.

Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Copyright © 2019. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.