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Cartas ‐ Caso clínico
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Disponível online em 19 de novembro de 2024
Dermatite de contato alérgica à alface
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Mariany Lima Rezendea,
Autor para correspondência
marianylrezende@gmail.com

Autor para correspondência.
, Ana Luiza Castro Fernandes Villarinhob, Maria das Graças Mota Melob, Clarissa Vita Camposa
a Hospital Federal de Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
b Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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Recebido 15 Fevereiro 2024. Aceite 03 Abril 2024
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Prezado Editor,

A dermatite de contato das mãos é considerada a dermatose ocupacional mais frequente (90% a 95% dos casos), causando morbidade e prejuízo funcional. A diversidade de alérgenos no âmbito laboral dificulta a determinação do substrato causador, tornando o teste de contato (TC) fundamental para elucidação diagnóstica.1

Descreve‐se um caso de dermatite de contato alérgica (DCA) desencadeada por alérgeno presente na alface, em um manipulador de alimentos, no qual o teste com a hortaliça in natura foi relevante para a confirmação diagnóstica.

Paciente do sexo masculino, de 46 anos, auxiliar de serviços gerais em hortifrutigranjeiro, sem histórico de alergias prévias, relatava bolhas, exsudação e prurido nas mãos há quatro meses. Alegava piora ao manipular vegetais verdes no trabalho. O paciente foi tratado com hidratantes, corticoides e antibióticos tópicos e sistêmicos, sem resposta. Ao exame, havia placas eritematosas, descamativas e liquenificadas, com erosões e fissuras nas palmas (fig. 1).

Figura 1.

Ao exame, observam‐se placas eritematosas, acastanhadas, com liquenificação, descamação, erosões e fissuras nas mãos.

(0.17MB).

Realizou‐se teste de contato com bateria latino‐americana (IPI‐ASAC, Brasil) que mostrou positividade para lactonas sesquiterpênicas (SLs). Em face do relato de piora com manipulação de folhas, aplicou‐se também o TC com hortaliças frescas (coentro, cebolinha, salsa, agrião, folha e caule de alfaces americana e crespa) preparadas com uma gota de água bidestilada e aplicadas na pele sob oclusão por 48 horas (fig. 2), conforme orienta o Grupo Internacional de Estudo em Dermatite de Contato. O teste resultou positivo nos dois tipos de alfaces testados nas leituras com 48 e 96 horas (fig. 3). O teste prick by prick com as folhas in natura mostrou‐se negativo, afastando a dermatite de contato à proteína (DCP), outra causa de eczema das mãos.

Figura 2.

(A) Preparo das folhas com água bidestilada para realização do prick by prick à esquerda e do teste de contato à direita. (B) Aplicação das folhas para o teste de contato identificadas por letras, sendo: (A) coentro; (B) cebolinha; (C) salsa; (D) agrião; (E) caule de alface americana; (F) folha de alface americana; (G) folha e caule de alface crespa.

(0.23MB).
Figura 3.

Resultado positivo para folha e caule de alface na primeira leitura com 48 horas.

(0.25MB).

Os achados corroboraram para o diagnóstico de DCA com nexo ocupacional, em que a alface é o agente causal. O paciente foi afastado do trabalho por 30 dias e medicado com emoliente e corticoide tópico, apresentando resolução das lesões; retornou ao trabalho, porém sem exposição direta a hortaliças e sem recidiva do quadro (fig. 4).

Figura 4.

Melhora clínica após quatro meses de suspensão do contato com o alérgeno, em uso apenas de emolientes hidratantes.

(0.14MB).

A DCA por alface é pouco relatada na literatura, considerando seu alto índice de consumo e cultivo. Relatos em manipuladores de alimentos, comprovam que qualquer pessoa envolvida no preparo está em risco.2

A bateria latino‐americana para testes de contato conta com 40 substâncias, incluindo as SLs, que são metabólitos de plantas da família Compositae capazes de induzir citotoxicidade cutânea, causando dermatites graves.3 Sua sensibilidade é testada usando uma mistura de três compostos em concentrações equimolares: alantolactona (classe eudesmanolida), costunolide (classe germacranolida) e de‐hidrocostus lactona (classe guaianolida), com concentração de 0,1% em petrolato;4,5 raramente causa reações falso‐positivas, pois há baixo risco de sensibilização ativa. Podem ocorrer reações cruzadas com outras plantas da família Compositae, como chicória, alcachofra, camomila, girassóis, até produtos de higiene e dermocosméticos que contêm SLs na formulação.2,5,6

No caso de alergia à alface, o teste com SLs serve como uma espécie de triagem, já que o mix não contém as duas substâncias comprovadamente alergênicas: lactucina e lactucopicrina.2 O diagnóstico pode ser feito por meio de testes de contato com ambas na concentração de 1% em petrolato, ou extrato curto de éter de alface 10% em petrolato, ou a planta e seiva in natura. Alguns autores propõem a inclusão da lactucopicrina em uma nova mistura SL (SL mix II).7

No caso relatado, as folhas utilizadas no TC foram preparadas com água bidestilada, mas também pode‐se utilizar éter. A diluição é necessária para diminuir o efeito cáustico da seiva, que pode gerar urticária de contato, levando à falsa positividade. A título de pesquisa, autores sugerem a realização dos testes em grupo controle de pacientes.2

Optou‐se por realizar também o teste prick by prick para afastar a possibilidade de DCP, condição mais rara que ocorre por reação de hipersensibilidade imediata, causada por proteínas de peso alto peso molecular incapazes de penetrar na pele íntegra, por isso é necessário o teste de puntura para seu diagnóstico.8

A resposta adequada ao tratamento depende do afastamento do alérgeno. O caso descrito ilustra esta afirmação, pois apesar das condutas previamente adotadas, só houve remissão da dermatite após a interrupção da exposição a alfaces e outras hortaliças. Destaca‐se que a descoberta do substrato causador do eczema, associada ao reconhecimento de outros mecanismos desencadeadores do quadro, evita recidivas e melhora a qualidade de vida dos pacientes.

Contribuição dos autores

Mariany Lima Rezende: Concepção e o desenho do estudo.

Ana Luiza Castro Fernandes Villarinho: Revisão crítica do conteúdo intelectual importante; Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Maria das Graças Mota Melo: Participação efetiva na orientação da pesquisa.

Clarissa Vita Campos: Revisão crítica da literatura; aprovação da versão final do manuscrito.

Suporte financeiro

Nenhum.

Referências
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E.C. Milam, S. Nassau, E. Banta, L. Fonacier, D.E. Cohen.
Occupational contact dermatitis: an update.
J Allergy Clin Immunol Pract., 8 (2020), pp. 3283-3293
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Contact Dermatitis., 74 (2016), pp. 67-75
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Impact of sesquiterpene lactones on the skin and skin‐related cells?. A systematic review of in vitro and in vivo evidence.
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P.E. Silva Belluco, P. Giavina-Bianchi, R.Z.F. Belluco, M.R.C.G. Novaes, C.M.S. Reis.
Prospective study of consecutive patch testing in patients with contact dermatitis using an adapted Latin American baseline series.
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The sesquiterpene lactone mix: a review of past, present and future aspects.
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G. Ducombs, C. Benezra, P. Talaga, K.E. Andersen, D. Burrows, J.G. Camarasa, et al.
Patch testing with the “sesquiterpene lactone mix”: a marker for contact allergy to Compositae and other sesquiterpene‐lactone‐containing plants. A multicentre study of the EECDRG.
Contact Dermatitis., 22 (1990), pp. 249-252
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Sesquiterpene lactone mix as a diagnostic tool for Asteraceae allergic contact dermatitis: chemical explanation for its poor performance and Sesquiterpene lactone mix II as a proposed improvement.
Contact Dermatitis., 66 (2012), pp. 233-240
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A. Barbaud.
Mechanism and diagnosis of protein contact dermatitis.
Curr Opin Allergy Clin Immunol., 20 (2020), pp. 117-121

Como citar este artigo: Rezende ML, Villarinho ALCF, Melo MGM, Campos CV. Allergic contact dermatitis to lettuce. An Bras Dermatol. 2025;100. https://doi.org/10.1016/j.abd.2024.04.006

Trabalho realizado no Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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