Reação medicamentosa com eosinofilia e sintomas sistêmicos (síndrome DRESS, do inglês drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms) é reação cutânea sistêmica e tardia associada à exposição a ampla variedade de medicamentos. Os grupos mais comumente implicados são antiepilépticos, antirretrovirais e antibióticos.1 A síndrome DRESS exibe grande variação nas características bioquímicas, e está geralmente associada a erupção cutânea morbiliforme, febre e linfadenopatia.2 O escore RegiSCAR foi desenvolvido para ajudar a quantificar a probabilidade de diagnóstico de síndrome DRESS;1 sua manifestação hematológica mais comum é a eosinofilia.3 A síndrome DRESS geralmente ocorre de duas a seis semanas após o início da medicação implicada, e os sintomas desaparecem ao longo de semanas a meses após sua descontinuação.3 A síndrome DRESS está associada a mortalidade de 3,8%.4
O presente relato descreve o caso de paciente do sexo feminino, de 61 anos, com apresentação prolongada da síndrome DRESS. A paciente, com histórico de linfoma folicular e da zona marginal, foi internada no hospital com sepse neutropênica e tratada de acordo com o protocolo com antibiótico de amplo espectro, tazobactam com piperacilina (tazocin). A paciente recebeu alta quando estava clinicamente bem, mas foi readmitida duas semanas depois com erupção cutânea suberitrodérmica extensa, dolorosa e pruriginosa (fig. 1 A–B). A temperatura associada atingiu pico de 40,4°C. A contagem de eosinófilos na admissão era de 2,99 e atingiu o pico de 7,47 109/L. A histopatologia de biópsia de pele inicial demonstrou padrão inflamatório psoriasiforme e espongiótico, com impetiginização e infiltrado eosinofílico, compatível com síndrome DRESS. Não foi observada qualquer evidência de linfoma cutâneo. A citometria de fluxo sérica foi normal. A paciente foi tratada inicialmente com prednisolona 30mg uma vez ao dia com redução lenta, pomada tópica de clobetasol e emolientes. Apesar de não estar tomando antibióticos nem a maioria de seus medicamentos habituais, a paciente continuou a ter exacerbações recorrentes da doença com picos menores na contagem de eosinófilos até 15 meses após o início dos sintomas. A histopatologia de uma segunda biopsia durante uma dessas exacerbações, cerca de sete meses após o início dos sintomas, confirmou características consistentes com síndrome DRESS sem evidências de linfoma cutâneo. Foi necessária prednisolona na dose de cerca de 20mg uma vez ao dia para manter o controle. Ciclosporina foi tentada como alternativa poupadora de corticoides, sem efeito. Eventualmente, os marcadores clínicos e hematológicos da doença normalizaram‐se, permitindo que a prednisolona fosse reduzida e interrompida. Não houve recorrência após dois anos do último pico de eosinófilos.
Após a observação deste caso, publicações sobre relatos de casos de síndrome DRESS prolongada foram revisadas. Vários artigos relataram casos de síndrome DRESS que exigiram tratamento prolongado com esteroides.5,6 O caso de duração mais prolongada revisado foi de paciente do sexo feminino, de 29 anos, que desenvolveu síndrome DRESS secundária ao uso de celecoxibe e medicamentos antituberculose. Os autores relataram recaída durante a recuperação, resultando em período total de recuperação de 14 meses.7 Esse caso foi complicado pelo desenvolvimento de polimiosite eosinofílica e insuficiência respiratória, que exigiu ventilação mecânica. A paciente foi tratada com imunoglobulina intravenosa (IVIG) e esteroides. Uma revisão da literatura sobre síndrome DRESS secundária a antibióticos incluiu 17 casos de síndrome DRESS secundária a co‐amoxiclav ou tazocina, e relataram resolução dos sintomas cutâneos após 18 dias em média. Os autores reconhecem que esse tempo é mais curto do que a média de três a seis semanas para resolução dos sintomas cutâneos devido à síndrome DRESS induzida por tazocina.3
Uma série de casos prospectivos que revisou especificamente aqueles de síndrome DRESS prolongada identificou que, dos 32 avaliados, sete pacientes ainda apresentavam características persistentes no dia 90, e um desses sete ainda apresentava enzimas hepáticas anormais, indicando DRESS após um ano.8 Essa série de casos revisou 40 relatos e teve como objetivo identificar fatores causais e características associadas à síndrome DRESS prolongada. Os autores descobriram que o uso de corticosteroides foi igual entre aqueles com DRESS prolongada, definida como síndrome DRESS em atividade no dia 90, em comparação com aqueles sem evolução prolongada.
Os autores acreditam que é importante adicionar este caso à literatura, pois a síndrome DRESS é caracterizada por curso frequentemente prolongado que requer tratamentos longos com medicamentos imunossupressores. Que seja de conhecimento dos autores, este é o caso de síndrome DRESS com maior duração registrado na literatura até o momento.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresFlorence Robinson: Preparou e escreveu a carta para publicação.
Lucy Webber: Envolvida no tratamento do paciente.
Emma Ormerod: Envolvida no tratamento do paciente.
Daniel Keith: Liderou o tratamento do paciente e revisou a carta antes da publicação.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Robinson F, Webber L, Ormerod E, Keith D. An extremely prolonged case of drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms (DRESS Syndrome) secondary to a penicillin‐based antibiotic. An Bras Dermatol. 2025;100. https://doi.org/10.1016/j.abd.2024.07.007.
Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Southmead Hospital, Bristol, Reino Unido.