O carcinoma de mama ectópica é responsável por aproximadamente 0,3% a 0,6% de todos os cânceres de mama, e 95% são oriundos de tecido mamário aberrante.1,2
O diagnóstico clínico pode ser tardio em decorrência da localização atípica, semelhança com outras doenças e exames complementares falhos.3
Descrevemos o caso de um carcinoma ductal primário de mama ectópica na axila diagnosticado e tratado como hidradenite supurativa (HS).
Paciente do sexo feminino, 62 anos, há um ano apresentava nódulo de 1,5×2,0cm, eritematoso, bem delimitado, com centro atrófico, doloroso e endurecido à palpação na axila esquerda (fig. 1).
O diagnóstico clínico sugestivo de HS foi corroborado com a ultrassonografia, que demonstrava área de espessamento hipoecogênico subcutâneo com formação de aspecto nodular. Foram prescritos antibióticos tópico e oral por 14 dias, além de infiltrações intralesionais de corticoide, sem melhora.
Realizamos biópsia incisional em elipse de dois sítios, medindo 0,5 cm, cujo exame anatomopatológico demonstrou epiderme preservada, presença de fileira e aglomerados de células epiteliais atípicas na derme (fig. 2); na imuno‐histoquímica, foi demonstrada positividade para panqueratina, sugestivo de metástase cutânea.
O rastreio neoplásico não evidenciou sítio primário. Portanto, foi realizada exérese total da lesão, que apresentou infiltração dérmica de células carcinomatosas, com tecido glandular mamário ectópico na profundidade (fig. 3). A imuno‐histoquímica foi positiva para estrogênio e negativa para progesterona e human epidermal growth factor receptor‐type 2 (HER‐2). Concluímos tratar‐se de carcinoma primário de mama ectópica com características de carcinoma ductal invasivo.
A paciente foi encaminhada ao serviço de mastologia e oncologia, onde foi feita ampliação das margens cirúrgicas e linfadectomia axilar ipsilateral, em razão da presença de metástase linfonodal. Realizou tratamento complementar com radioterapia e anastrazol. Com um ano de seguimento ambulatorial e mamografia de controle, permanece sem recidiva.
A mama ectópica está sujeita aos mesmos processos fisiopatológicos da mama tópica, porém as alterações malignas são mais frequentes que as benignas.1 Pode ser composta por tecido glandular, mamilo e aréola. É subdividida em mama supranumerária ou tecido mamário aberrante. Esta última é caracterizada pela presença de glândula mamária isolada, próxima à mama tópica e sem comunicação com a pele.1
O carcinoma de mama ectópica predomina em mulheres. A região axilar é mais acometida, e o carcinoma ductal infiltrante é responsável por 79% dos casos.1,4
A manifestação clínica mais comum é a presença de nódulo subcutâneo, unilateral, de crescimento progressivo, irregular, eritematoso e endurecido, com ou sem mamilo e aréola.5
A ultrassonografia é o exame inicial de escolha, que pode evidenciar nódulo irregular, hipoecoico, heterogêneo e mal definido, podendo ser visualizada a glândula mamária acessória.5
O diagnóstico costuma ser tardio, com média de 40 meses, o que pode gerar pior prognóstico. A confirmação é feita por meio do exame histopatológico.3,5
O manejo do carcinoma de mama ectópica segue o tratamento e estadiamento do câncer da mama convencional. Não há consenso sobre excisão profilática da mama ectópica.3,5
Apesar de rara, é fundamental o reconhecimento dessa condição, além de atentar para as tumorações ao longo da linha láctea e enfatizar a importância do exame histopatológico mesmo frente a uma provável lesão benigna.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresAriane Sponchiado Assoni: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Beatriz Baptista Abreu da Silva: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Aline Sponchiado Assoni: Elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura.
Felipe Mauricio Soeiro Sampaio: Aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.