Journal Information
Visits
36
Carta ‐ Investigação
Full text access
Available online 3 February 2025
Características associadas a reconstruções únicas ou combinadas: análise de 1.124 cirurgias de Mohs
Visits
36
Felipe Bochnia Cercia,b,c,&#¿;
Corresponding author
cercihc@hotmail.com

Autor para correspondencia.
, Letícia Mari Tashimac, Stephanie Matthewsd, Stanislav N. Tolkachjove,f,g
a Dermatologia, Clínica Cepelle, Curitiba, PR, Brasil
b Clínica Médica e Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
c Serviço de Dermatologia, Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil
d School of Medicine, University of Kansas Medical Center, Kansas City, Kansas, Estados Unidos
e Dermatologia, Epiphany Dermatology, Dallas, Texas, Estados Unidos
f Departamento de Dermatologia, The University of Texas at Southwestern Medical Center, Dallas, Texas, Estados Unidos
g Divisão de Dermatologia, Baylor Scott & White, Dallas, Texas, Estados Unidos
This item has received
Received 31 May 2024. Accepted 09 July 2024
Article information
Full Text
Bibliography
Download PDF
Statistics
Figures (2)
Tables (2)
Tabela 1. Características analisadas para emprego de reconstrução combinada
Tabela 2. Dados demográficos e cirúrgicos
Show moreShow less
Full Text
Prezado Editor,

A ideia de que defeito cirúrgico deve sempre ser completamente restaurado com um único método nem sempre é absoluta. Em certos casos, a combinação de métodos de reparo após a remoção do câncer de pele pode ser benéfica.1 A reconstrução combinada pode ser usada em defeitos que afetem duas ou mais unidades anatômicas faciais, feridas de dimensões extensas ou com reservatório limitado de tecido adjacente, bem como em casos mais simples.2,3 Embora defeitos multi‐subunitários ou complexos sejam comumente encontrados por cirurgiões dermatológicos, há poucas publicações sobre sua frequência e, que seja de conhecimento dos autores, nenhuma publicação sobre os fatores relacionados ao seu emprego.4–10 O objetivo deste estudo é avaliar a frequência de reconstruções combinadas após a cirurgia micrográfica de Mohs (CMM) e identificar características da ferida e do paciente relacionadas ao seu emprego.

Este estudo transversal inclui dados de cirurgias consecutivas realizadas pelo mesmo autor (FBC) de abril de 2018 a março de 2023. As informações foram inseridas no banco de dados imediatamente após cada cirurgia para reduzir o risco de viés. O estudo recebeu aprovação do Comitê de Ética institucional. As seguintes variáveis foram avaliadas: idade, gênero, diagnóstico, unidades/subunidades anatômicas envolvidas, tamanho da ferida e método(s) de reconstrução. Esses foram classificados em fechamento primário, cicatrização por segunda intenção, enxerto de pele, enxerto de cartilagem e retalhos. Este último grupo foi subdividido em retalhos de rotação, avanço, transposição, interpolação e em dobradiça. O fechamento combinado foi definido como o emprego de mais de um método de reparo para a mesma ferida.

Os critérios de inclusão foram defeitos cirúrgicos de pacientes submetidos à CMM reconstruídos pelo mesmo cirurgião. Os critérios de exclusão foram feridas reconstruídas por outras especialidades. Os dados foram analisados usando o programa SPSS™ (versão 22.0, IBM). Para a análise estatística, foram utilizados o teste t de Student e o teste exato de Fisher; foi considerada significância de 5%. Foram incluídos 1.124 defeitos cirúrgicos de 850 pacientes. Trinta e seis casos foram excluídos porque foram restaurados por outras especialidades. A tabela 1 descreve os dados demográficos e cirúrgicos.

Tabela 1.

Características analisadas para emprego de reconstrução combinada

  Total(n=1124)  Reconstrução combinada(n=242)  Reconstrução única(n=882)  p‐valor 
Gênero        0,620 
Feminino  638 (57%)  134 (55%)  504 (57%)   
Masculino  486 (43%)  108 (45%)  378 (43%)   
Idade (anos)         
<60  335 (32%)  79 (33%)  276 (31%)  0,690 
≥ 60  769 (68%)  163 (67%)  606 (69%)   
Tamanho         
≤ 2cm  938 (83%)  157 (65%)  781 (89%)  <0,001 
>2cm  186 (17%)  85 (35%)  101 (11%)   
Número de unidades anatômicas afetadas        <0,001 
1000 (89%)  164 (68%)  836 (94,8%)   
>124 (11%)  78 (32%)  46 (5,2%)   
Subunidades anatômicas específicas         
Região alar e parede nasal lateral  36 (3,2%)  19 (7,9%)  17 (1,9%)  <0,001 
Parede nasal lateral e região bucinadora  24 (2,1%)  18 (7,4%)  6 (0,7%)  <0,001 
Região alar nasal e região bucinadora  22 (2%)  17 (7%)  5 (0,6%)  <0,001 
Vermelhão e lábio cutâneo superior  9 (0,8%)  5 (2%)  4 (0,4%)  0,021 

Reconstrução combinada foi usada em 242 casos (21,5%). A figura 1 ilustra as reconstruções combinadas mais frequentemente utilizadas. Entre os casos de reconstrução combinada, 180 combinaram dois métodos e 62 combinaram três ou mais. Defeitos >20mm de diâmetro (35% vs. 11%, p<0,001; OR=4,2) e feridas que envolveram mais de uma unidade anatômica (32% vs. 5,2%, p<0,001; OR=8,6) foram mais comumente submetidos a reparos combinados (tabela 1).

Figura 1.

Reconstruções combinadas mais frequentes.

(0.1MB).

Em relação à localização, feridas no nariz foram mais frequentemente reparadas com método combinado quando comparadas a outras unidades anatômicas faciais (tabela 2). Além disso, defeitos envolvendo as seguintes subunidades separadas por concavidade (parede lateral nasal/região bucinadora, parede lateral nasal/região alar e região alar nasal/região bucinadora) ou pele/mucosa concomitantemente (vermelhão/lábio cutâneo superior) foram mais frequentemente restaurados com métodos combinados (tabela 1).

Tabela 2.

Dados demográficos e cirúrgicos

  Total(n=1124)  Reconstrução combinada  Reconstrução única 
Gênero       
Feminino  490 (58%)     
Masculino  360 (42%)     
Mediana da idade (ano)  62,1 (26–93)     
Fototipo de pele de Fitzpatrick       
64 (7,4%)     
439 (52%)     
342 (40%)     
5 (0,6%)     
Subtipos histopatológicos       
CBC  1029 (92%)     
CEC  60 (5%)     
Doença de Bowen  23 (2%)     
Outrosa  12 (1%)     
Reconstrução combinada  242 (21,6%)     
Reconstrução única  882 (78,4%)     
Unidades anatômicasb       
Região nasal  468 (41,7%)  130 (27,8%)  338 (72,2%) 
Pavilhão auricular  77 (6,9%)  19 (24,7%)  58 (75,3%) 
Região periocularc  61 (5,4%)  11 (18%)  50 (82%) 
Região perioral  69 (6,1%)  12 (17,4%)  57 (82,6%) 
Couro cabeludo  46 (4%)  8 (17,4%)  38 (82,6%) 
Região malar  186 (16,6%)  27 (14,5%)  159 (85,5%) 
Região frontal/temporad  157 (14%)  16 (10,1%)  141 (89,9%) 
Outros  60 (5,3%)  9 (15%)  51 (85%) 
a

Outros: basoescamoso (n=5), ceratoacantoma (n=3), dermatofibrosarcoma protuberans (n=2), fibroxantoma atípico (n=1), carcinoma sebáceo (n=1).

b

Foi considerada a principal unidade anatômica afetada em cada ferida.

c

Região periocular inclui: pálpebras, canto medial e lateral.

d

Sobrancelha e glabela estão incluídas neste grupo.

Embora a maioria dos defeitos possa ser adequadamente restaurada usando um único método, a abordagem combinada tem sido cada vez mais relatada na literatura e foi frequentemente empregada no presente estudo.8–10 Estudos anteriores descreveram taxas de reconstrução combinada variando de 7,6% a 13%, menor do que o estudo atual.6,7

Como relatado por Patel et al., a reconstrução combinada é útil em feridas que afetam a parede lateral nasal e a região alar simultaneamente, pois a preservação do sulco alar é essencial para a simetria facial.8 A figura 2 fornece exemplo cirúrgico de reconstrução combinada envolvendo a região alar nasal, o triângulo apical e o lábio cutâneo superior. No presente estudo, as feridas envolvendo essas subunidades foram aquelas mais frequentemente submetidas a métodos combinados. O mesmo ocorreu em defeitos na parede lateral nasal/região bucinadora, com o objetivo de recriar o sulco nasofacial.10 Esse conceito foi bem descrito em 2004 por Robinson et al., quando o autor associou métodos de reparo em feridas que afetaram mais de uma unidade anatômica.1

Figura 2.

(A) Defeito cirúrgico após três estágios de cirurgia micrográfica de Mohs envolvendo múltiplas subunidades: região alar nasal, triângulo apical e lábio cutâneo superior. (B) Movimento de retalho de rotação. (C) Pós‐operatório imediato. O lábio cutâneo superior e o triângulo apical foram restaurados com retalho de rotação nasolabial, enquanto a região alar nasal foi restaurada com enxerto de pele de espessura total. Uma pequena área foi deixada para cicatrizar por segunda intenção para ajudar a recriar a concavidade entre o nariz e o triângulo apical. (D) Dois meses de pós‐operatório.

(0.41MB).

Feridas maiores foram associadas à combinação de métodos, o que pode ser explicado pelo reservatório limitado de pele em algumas unidades anatômicas da face. Entretanto, como demonstrado no presente estudo, feridas pequenas ou comprometendo múltiplas subunidades também podem ser candidatas à reconstrução combinada. Por exemplo, ao associar o fechamento primário à cicatrização por segunda intenção, a área de granulação e o tempo de cicatrização são reduzidos. Outro exemplo comum é associar o fechamento primário a um enxerto da pele adjacente (“enxerto de Burow”), reduzindo o tamanho da área receptora do enxerto.9 Essa prática é especialmente útil em pacientes anticoagulados para evitar grandes áreas de descolamento do retalho e aumento do risco de sangramento/hematoma pós‐operatório.

Um ponto forte do estudo é o tamanho da amostra. A principal limitação é a experiência de uma única instituição/cirurgião, inerentemente observada na maioria dos estudos reconstrutivos. Embora vários métodos de fechamento possam alterar o custo nos Estados Unidos da América (EUA) e em outros países, o custo não variou com base nos métodos de reconstrução nesta população do estudo.

Em conclusão, reconstruções combinadas foram relativamente frequentes nesta amostra, principalmente em defeitos >2cm e naqueles que acometiam subunidades separadas por concavidade. O conhecimento desses dados é relevante, pois associar métodos de reconstrução pode ser ferramenta útil para cirurgiões dermatológicos ao discutir futuras reconstruções com pacientes para melhor adequar as expectativas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Felipe Bochnia Cerci: Aprovação da versão final do manuscrito, revisão crítica da literatura, obtenção, análise e interpretação dos dados, revisão crítica do manuscrito, elaboração e redação do manuscrito, análise estatística, concepção e planejamento do estudo.

Letícia Mari Tashima: Aprovação da versão final do manuscrito, revisão crítica da literatura, obtenção, análise e interpretação dos dados, elaboração e redação do manuscrito, análise estatística, concepção e planejamento do estudo.

Stephanie Matthews: Aprovação da versão final do manuscrito, revisão crítica do manuscrito, elaboração e redação do manuscrito, revisão crítica da literatura.

Stanislav N. Tolkachjov: Aprovação da versão final do manuscrito, participação efetiva na orientação da pesquisa, revisão crítica do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
J.K. Robinson.
Segmental reconstruction of the face.
Dermatol Surg, 30 (2004), pp. 67-74
[2]
F.B. Cerci, S.N. Tolkachjov.
Reconstruções combinadas.
Retalhos e enxertos em cirurgia micrográfica de Mohs., pp. 115-122
[3]
J.F. Scott, K. Garland, J.S. Bordeaux.
Repair of a defect on the central face involving 9 cosmetic subunits.
Dermatol Surg., 48 (2022), pp. 571-573
[4]
M.N. Frey, R.C. Rossini, F.B. Cerci.
Purse string‐suture combined with second intention healing for temporal region repair.
Surg Cosmet Dermatol., 10 (2018), pp. 68-71
[5]
B.J. King, S.N. Tolkachjov.
West by East‐West”: combination repair of wide or multiple distal nasal defects.
Int J Dermatol., 59 (2020), pp. 1270-1272
[6]
C. Nätterdahl, J. Kappelin, B. Persson, K. Lundqvist, I. Ahnlide, K. Saleh, et al.
Risk factors for complicated Mohs surgery in the South Sweden Mohs Cohort.
J Eur Acad Dermatol Venereol., 36 (2022), pp. 1113-1117
[7]
L.K. Archibald, R. Gupta, K.T. Shahwan, M. Swick, C. Bakker, A.R. Mattox, et al.
Periorbital reconstructive techniques following Mohs micrographic surgery or excisions: a systematic review.
Arch Dermatol Res., 315 (2023), pp. 1853-1861
[8]
P.M. Patel, J.N. Greenberg, K.L. Kreicher, N.M. Burkemper, J.S. Bordeaux, I.A. Maher.
Combination of melolabial interpolation flap and nasal sidewall and cheek advancement flaps allows for repair of complex compound defects.
Dermatologic Surg., 44 (2018), pp. 785-795
[9]
A. Benoit, B.C. Leach, J. Cook.
Applications of Burow's grafts in the reconstruction of Mohs micrographic surgery defects.
Dermatologic Surg., 43 (2017), pp. 512-520
[10]
J.A. Tate, R.I. Nijhawan.
Repair of a defect involving the nasal sidewall, nasal ala, alar sulcus, and medial cheek.
Dermatologic Surg., 49 (2023), pp. 73-75

Como citar este artigo: Cerci FB, Tashima LM, Matthews S, Tolkachjov SN. Features associated with the use of single or combined reconstructions: analysis of 1,124 Mohs surgeries. An Bras Dermatol. 2025;100. https://doi.org/10.1016/j.abd.2024.07.009.

Trabalho realizado na Clínica Cepelle, Curitiba, PR, Brasil.

Download PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia
Article options
Tools
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.