O uso regular de protetor solar minimiza os efeitos nocivos da radiação ultravioleta. A falta de proteção solar suficiente faz com que o indivíduo fique vulnerável aos efeitos nocivos da radiação, que incluem problemas estéticos e de saúde.
Os protetores solares são submetidos ao FPS in vivo que geralmente utiliza padrão de 2mg/cm2 de pele.1 Para atingir essa proteção, é necessário aplicar a quantidade correta de maneira uniforme. Quando aplicado em quantidades insuficientes, o valor real do FPS é menor, o que pode levar à falsa sensação de proteção.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar, quantitativamente, a qualidade do método de aplicação de fotoprotetores faciais e relacioná‐lo com características da população estudada como modo de melhorar sua educação sobre o assunto.
O estudo foi realizado entre novembro e dezembro de 2023 em Vitória da Conquista/BA (aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do IMS‐UFBA n° 69091123.7.0000.5556). Os voluntários foram instruídos a aplicar protetor solar comercial com FPS 70 na quantidade e da maneira que costumam fazer. Em seguida, uma fotografia UV do rosto foi tirada por pesquisadores utilizando dispositivo especial que combina câmera UV com luz UVA integrada, fornecendo iluminação suficiente para uma cobertura padronizada de protetor solar (UV LOOK, Youcai Technology Co). Por fim, foi realizado estudo sobre hábitos de exposição solar e cuidados com fotoproteção. A superfície facial total e a superfície onde o protetor solar foi aplicado foram determinadas, em pixels, utilizando o software GIMP – GNU Image Manipulation Program.
A área de superfície de cobertura do protetor solar foi calculada pelo quociente da região onde o protetor solar foi aplicado para a área total da superfície do rosto do voluntário, excluindo as regiões dos olhos e lábios (Equação 1). A análise estatística foi realizada utilizando o programa GraphPad Prism 5.
O presente estudo foi realizado em 177 voluntários (18 a 64 anos), dos quais 115 eram mulheres (64,97%) e 62 homens (35,03%), com média de idade de 26,52±8,96 anos e a superfície média de aplicação foi calculada em 88,21±23,83%.
Os filtros químicos absorvem a radiação UV e ao utilizar um dispositivo que filtra a luz visível e captura a radiação UV, as regiões cobertas pelo protetor solar aparecem mais escuras.2 A figura 1 mostra um exemplo de como foi determinada a área de aplicação do protetor solar, em escala crescente.
Em relação à análise dos resultados a partir das respostas obtidas nos questionários, foi possível observar alguns cenários. As mulheres apresentaram superfície de aplicação média de 92,90±15,59%, enquanto os homens atingiram valores de 79,50±32,65%; esses valores foram estatisticamente significantes (teste t não pareado e valor de p <0,05). Resultados semelhantes foram observados por Jovanovic e Schornstein,3 ao avaliar a cobertura corporal total, demonstrando que as mulheres apresentaram cobertura significantemente maior que os homens. As mulheres são conhecidas por cuidarem mais da saúde em comparação aos homens.4 A previsão é que até o ano de 2040 os homens apresentem 26% mais casos de melanoma com mortalidade 36% superior em comparação às mulheres.5 Além disso, estudo realizado com 705 homens constatou que 83% deles não usavam protetor solar diariamente e apenas 38% relataram usar o produto semanalmente.6 Esse fator de menor cuidado por parte dos homens também foi observado no presente estudo.
Outro aspecto importante é a faixa etária dos voluntários. Em virtude da grande diferença de voluntários em cada grupo, não foi possível realizar análise estatística utilizando a estratificação etária apresentada na figura 2. Entretanto, mesmo sem apresentar variações estatisticamente significantes, os melhores resultados foram obtidos pelo grupo na faixa etária de 35 a 46 anos, obtendo até 94% de cobertura de superfície.
Estudo realizado com 5.992 voluntários utilizou questionários sobre câncer de pele e medidas preventivas e mostrou que pessoas mais velhas e aquelas com menor acesso à educação, ou com educação não formal, acreditavam que estavam expostas a menores riscos para câncer de pele.4 No entanto, isso não se refletiu nos resultados da aplicação de protetor solar por área de superfície no presente estudo.
Por fim, os voluntários foram classificados de acordo com a cor da pele autodeclarada (fig. 3). É possível observar maior área de superfície de cobertura de protetor solar em pessoas de pele branca e parda. Entretanto, essa diferença não foi estatisticamente significante (Anova+Tukey).
Pessoas de pele mais clara são mais propensas a queimaduras e mais sensíveis à radiação UV do que pessoas de pele mais escura, de acordo com a classificação de fototipo de pele estabelecida por Thomas B. Fitzpatrick.7 Assim, é comum observar que pessoas de pele escura tendem a se proteger menos contra a radiação solar por acreditar nas características autoprotetivas desse fenótipo de pele.
Tão importante quanto a aplicação é a reaplicação. Assim, também foi investigada a frequência de aplicação do protetor solar pelos voluntários, a frequência de reaplicação e a duração média de um frasco de protetor solar, como forma de estimar a quantidade aplicada e os hábitos de cuidados com a fotoproteção (tabela 1).2,8
Observou‐se que mesmo aquelas pessoas que usam protetor solar irregularmente obtiveram altos níveis de cobertura do produto, mas aquelas que usam protetores solares diariamente obtiveram maior cobertura de aplicação. No entanto, quando questionados sobre a frequência de reaplicação do produto, 92,66% (164 pessoas) dos voluntários afirmaram não ter o hábito de reaplicar o protetor solar.
De acordo com o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, a quantidade de 2mg/cm2 para testes in vivo é utilizada porque gera camada de 1mm de espessura em toda a epiderme facial. Portanto, é possível estimar que o uso correto do protetor solar diariamente na face consumiria um frasco de 40g do produto em aproximadamente 30 dias. No presente estudo, a maioria dos voluntários esse frasco ultrapassa esse período (tabela 2), durando até um ano, sugerindo assim aplicação do produto em quantidade bem abaixo do recomendado.
No presente estudo, embora tenham sido citados produtos com FPS 90, a faixa de FPS 30 e 50 são os mais utilizados por 84,75% dos voluntários, estando próximos do mínimo recomendado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Sendo o ideal utilizar produto de amplo espectro para raios UVA e UVB com FPS pelo menos igual ou superior a 30.9
É possível concluir que a população avaliada tem informações suficientes quanto à maneira correta de aplicação do protetor solar, dado o alto percentual de superfície coberta pela aplicação do fotoprotetor. Dentre os parâmetros gênero, idade e cor da pele, apenas o gênero foi significante, com as mulheres apresentando maior superfície coberta na aplicação do protetor solar. Entretanto, a duração média dos produtos e a ausência de reaplicação ainda são aspectos que afetam diretamente a qualidade da proteção ao longo do período em que ocorre a exposição. Isso implica que saber aplicar o protetor solar não é suficiente para uma proteção eficaz. Além disso, foi possível demonstrar a aplicabilidade de um dispositivo custo‐efetivo de fácil uso para monitorar a superfície de aplicação do protetor solar. Estes podem ser utilizados por profissionais de saúde no ambiente domiciliar, uma vez que já foi demonstrado que o uso de dispositivos de fotografia UV melhora os cuidados de fotoproteção da pele.10 É essencial que dados científicos cheguem ao conhecimento da população através de campanhas educativas sobre o uso correto dos fotoprotetores dirigidas a diferentes níveis da sociedade.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresLucivaldo Fernandes Cruz: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Catarina Silva Guimarães: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Bianca Lemos Oliveira: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Bruna Santana Neves: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Caio Ferraz Cabral de Araújo: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Maria Clara Botelho de Sousa: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Vinicius Rosenbergre dos Santos Carmo: Obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; revisão crítica da literatura.
Juliano Geraldo Amaral: Participação efetiva na orientação da pesquisa; aprovação da versão final do manuscrito.
Gabriel Azevedo de Brito Damasceno: Concepção e planejamento do estudo; análise estatística; elaboração e redação do manuscrito ou revisão crítica de conteúdo intelectual importante; participação efetiva na orientação da pesquisa; aprovação da versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Cruz LF, Guimarães CS, Oliveira BL, Neves BS, Araújo CFC, Sousa MCB, et al. Evaluation of how facial sunscreens are applied by the population: an approach beyond the product quantity. An Bras Dermatol. 2025;100. https://doi.org/10.1016/j.abd.2024.04.009
Trabalho realizado no Instituto Multidisciplinar em Saúde, Campus Anísio Teixeira, Universidade Federal da Bahia, Vitória da Conquista, BA, Brasil.