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Vol. 95. Issue 2.
Pages 252-254 (1 March 2020)
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Vol. 95. Issue 2.
Pages 252-254 (1 March 2020)
Carta ‐ Investigação
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Análise dos aspectos clínicos de portadores de hanseníase entre 2010‐2017 em um centro de referência de Campinas
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Marcel Alex Soares dos Santosa,
Corresponding author
marceldossantos@yahoo.com.br

Autor para correspondência.
, José Luis Braga de Aquinob, Elisangela Pegasc, Elaine Cristina Faria Abrahao Machadod
a Departamento de Demartologia, Faculdade São Leopoldo Mandic de Campinas, Campinas, SP, Brasil
b Departamento de Cirurgia de Cabeça, Pescoço e Tórax, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil
c Ambulatório de Hanseníase, Bolhosas e Fototerapia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil
d Ambulatório de Dermatologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil
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Tables (3)
Tabela 1. Comparação entre os grupos de classificação operacional (teste Qui‐Quadrado)
Tabela 2. Comparação da idade de diagnóstico entre as variáveis
Tabela 3. Comparação entre os grupos de sintomas neurais (teste Qui‐Quadrado)
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Prezado Editor,

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, granulomatosa crônica, causada pelo bacilo gram‐positivo Mycobacterium leprae1.

Acomete principalmente a pele e os nervos periféricos, mas pode comprometer também outros órgãos. Pode deixar sequelas neurológicas e motoras e tem alto poder incapacitante caso não seja tratada de maneira precoce2.

Ainda é um sério problema de saúde pública e está ligada cultural e socialmente a uma condição estigmatizante. Trata‐se da principal causa infecciosa de incapacidades no homem. No ano de 2017 foram detectados 210.671 casos novos no mundo, sendo o Brasil o 2° país do mundo com maior prevalência da doença. Em 2017, o país registrou 26.875 casos novos de hanseníase, representando 12,7% do total global de novas ocorrências2,3.

Conhecer o contexto dos portadores de hanseníase em um hospital universitário, com serviço de referência no tratamento da doença, contribui para a formulação de estratégias em saúde pública que visem o seu controle e dá subsídio para ações de enfrentamento local desse agravo.

Trata‐se de um estudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo cujo objetivo é analisar a relação das variáveis clínicas da hanseníase nos pacientes notificados em um ambulatório de dermatologia referência em hanseníase na cidade de Campinas no período de 2010‐2017, através da análise das informações contidas nos prontuários desses pacientes (n=111).

A relação entre as variáveis foi avaliada através do teste Qui‐Quadrado, teste t de Student ou ANOVA seguida do teste de comparações múltiplas de Tukey. O nível de significância considerado foi de 5%.

Na tabela 1 é possível ver a relação da classificação operacional com as demais variáveis. Foi observada associação significativa da presença de sintomas neurais com a classificação operacional (p <0,0001). Há mais pacientes na classificação multibacilar com sintomas neurais (p <0,0001), assim como incapacidade física (p=0,0124).

Tabela 1.

Comparação entre os grupos de classificação operacional (teste Qui‐Quadrado)

Variável  Categoria  Classificação operacionalTotalp‐valor 
    MBPB     
     
Gênero  Feminino  37  43,5  10  38,5  47  42,3  0,6472 
  Masculino  48  56,5  16  61,5  64  57,7   
Forma clínica  Dimorfa  35  41,2  0,0  35  31,5  <0,0001 
  Indeterminada  4,7  34,6  13  11,7   
  Neural pura  3,5  3,8  3,6   
  Tuberculóide  3,5  16  61,5  19  17,1   
  Virchowiana  40  47,1  0,0  40  36,0   
Sintomas neurais  Não  8,8  12  46,2  19  17,9  <0,0001 
  Sim  73  91,3  14  53,8  87  82,1   
Incapacidade física  Não  20  37,0  11  73,3  31  44,9  0,0124 
  Sim  34  63,0  26,7  38  55,1   

Na análise da forma clínica com as demais variáveis, foi observada associação da forma clínica com presença de sintomas neurais (p=0,0002), pacientes com a forma virchowiana e dimorfa têm mais sintomas neurais.

A tabela 2 mostra a comparação da idade de diagnóstico e as outras variáveis estudadas. Foi observada diferença significativa da idade de diagnóstico em relação à classificação operacional (p=0,0001), pacientes com classificação paucibacilar têm menor idade de diagnóstico. Pacientes com forma clínica virchowiana (p=0,0112), aqueles com sintomas neurais (p=0,0278) e com incapacidade física (p=0,0102) apresentam maior idade de diagnóstico.

Tabela 2.

Comparação da idade de diagnóstico entre as variáveis

Variável  Categoria  Média  DP  Mínimo  Mediana  Máximo  p‐valor 
ClassificaçãooperacionalMultibacilar  85  50,3  16,4  15,0  51,0  87,0  0,0001
Paucibacilar  26  35,7  16,1  8,0  29,5  74,0 
Forma clínicaDimorfa  35  50,5  14,7  21,0  49,0  81,0  0,0112
Indeterminada  13  33,5  15,3  10,0  27,0  61,0 
Neural pura  41,5  34,9  8,0  41,5  75,0 
Tuberculóide  19  42,7  14,3  25,0  42,0  74,0 
Virchowiana  40  50,6  17,5  15,0  51,5  87,0 
Sintomas neuraisNão  19  38,3  13,6  10,0  42,0  61,0  0,0278
Sim  87  47,7  17,2  8,0  48,0  81,0 
Incapacidade físicaNão  31  40,3  16,5  8,0  40,0  70,0  0,0102
Sim  38  50,4  15,2  18,0  51,0  79,0 
Baciloscopia pré‐tratamentoNegativa  72  46,7  17,6  8,0  45,5  81,0  0,8392
Positiva  39  47,4  17,1  15,0  48,0  87,0 
Baciloscopia pós‐tratamentoNegativa  83  46,8  16,5  8,0  48,0  78,0  0,4167
Positiva  42,1  16,4  27,0  38,0  79,0 

Na tabela 3 estão as associações dos sintomas neurais com as demais variáveis. Pacientes com sintomas neurais têm mais incapacidade física (p=0,0159), apresentam mais baciloscopia positiva antes do tratamento (p=0,0139), usam esquema terapêutico PQT‐MB com maior frequência (p <0,0001) e estendem mais o tratamento do que o tempo pré‐determinado (p=0,0172).

Tabela 3.

Comparação entre os grupos de sintomas neurais (teste Qui‐Quadrado)

Variável  Categoria  Sintomas NeuraisTotalp‐valor 
    NãoSim     
     
Gênero  Feminino  10  52,6  34  39,1  44  41,5  0,2775 
  Masculino  47,4  53  60,9  62  58,5   
Incapacidade Física  Não  80,0  23  39,0  31  44,9  0,0159 
  Sim  20,0  36  61,0  38  55,1   
Baciloscopia pré‐tratamento  Negativa  17  89,5  52  59,8  69  65,1  0,0139 
  Positiva  10,5  35  40,2  37  34,9   
Baciloscopia pós‐tratamento  Negativa  17  100,0  64  87,7  81  90,0  0,1270 
  Positiva  0,0  12,3  10,0   
Esquema terapêutico  PQT‐MB  36,8  74  85,1  81  76,4  <0,0001 
  PQT‐PB  12  63,2  13  14,9  25  23,6   
Estendeu tratamento  Não  16  94,1  54  65,1  70  70,0  0,0172 
  Sim  5,9  29  34,9  30  30,0   

Em relação à presença de incapacidade física, foi observado que pacientes do sexo masculino têm mais incapacidade física (p=0,0273), assim como pacientes com esquema terapêutico multibacilar (p=0,0046).

Doentes multibacilares têm duas vezes mais chance de apresentar incapacidades físicas, pois têm alta carga bacilar em circulação no organismo e, por terem quadro clínico geralmente mais arrastado, os bacilos atuam mais tempo nos nervos, causando os sintomas neurais e podendo levar às incapacidades4.

A forma clínica virchowiana é a que tem maior impacto no desenvolvimento de incapacidades físicas e deformidades, aumentando a chance de desenvolver incapacidade Grau II em 16,5 vezes2.

Doentes com mais de 60 anos tem duas vezes mais chance de serem multibacilares, pois os jovens são menos expostos ao Mycobacterium leprae e o desenvolvimento da forma multibacilar necessitam de longo período de incubação do bacilo. Idosos apresentam alterações imunológicas relacionadas à idade e maior suscetibilidade para infecções com monócitos e neutrófilos com funções prejudicas, redução da capacidade fagocitária, diminuição da apresentação de antígenos e mudança no perfil de citocinas de Th1 para Th25.

Homens têm 1,4 mais chances de desenvolverem incapacidades físicas do que as mulheres, pois cuidam menos da saúde, retardando o diagnóstico e tratamento da doença. Com mais tempo do bacilo atuando de forma ativa no organismo, maior o dano neural2,5.

O estudo apresentou algumas limitações. Apesar do ambulatório de dermatologia do estudo atender ampla demanda da cidade de Campinas‐SP, apenas os doentes notificados no local foram incluídos no estudo. Grande porcentagem de doentes não foram avaliados quanto à presença de incapacidades físicas (37,8%). O estudo se baseou na classificação de Madri e na operacional apresentada pela OMS. Vale ressaltar que diferente da classificação de Ridley e Jopling, as classificações usadas não separam os doentes dimorfos em DT, DD e DV, os quais apresentam diferenças clínicas, bacteriológicas e imunológicas.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Marcel Alex Soares dos Santos: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

José Luis Braga de Aquino: Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa.

Elisangela Pegas: Concepção e planejamento do estudo; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

Elaine Cristina Faria Abrahao Machado: Concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum

Referências
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M.E.G.C. Silva, C.D.F. Souza, S.P.C. Silva, F.M. Costa, R.F. Carmo.
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Risk factors for physical disability at diagnosis of 19,283 new cases of leprosy.
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M.L. Nobre, X. Illarramendi, K.M. Dupnik, M.A. Hacker, J.A. Nery, S.M. Jerônimo, et al.
Multibacillary leprosy by population groups in Brazil: Lessons from an observational study.
PLoS Negl Trop Dis., 11 (2017), pp. e0005364

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP, Brasil.

Como citar este artigo: Santos MAS, Aquino JLB, Pegas E, Abrahao Machado ECF. Analysis of clinical aspects of leprosy patients between 2010‐2017 at a reference center in Campinas. An Bras Dermatol. 2020;95:252–4.

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