Compartilhar
Informação da revista
Vol. 99. Núm. 1.
Páginas 123-125 (1 janeiro 2024)
Compartilhar
Compartilhar
Baixar PDF
Mais opções do artigo
Visitas
6157
Vol. 99. Núm. 1.
Páginas 123-125 (1 janeiro 2024)
Cartas ‐ Caso clínico
Acesso de texto completo
Síndrome de Nicolau extensa após diclofenaco sódico intramuscular
Visitas
6157
Rafael Oliveira Amorim
Autor para correspondência
amorimdermatologia@gmail.com

Autor para correspondência.
, Alana Luísa Calixto Carlos da Silva, Camila Arai Seque, Adriana Maria Porro
Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo
Bibliografia
Baixar PDF
Estatísticas
Figuras (3)
Mostrar maisMostrar menos
Texto Completo
Prezado Editor,

A síndrome de Nicolau (SN) é embolia cútis medicamentosa com oclusão vascular e necrose da pele e tecidos subjacentes, relacionada ao uso de medicações como antimicrobianos beta‐lactâmicos, anti‐inflamatórios não esteroides (AINEs) e, mais recentemente, preenchedores de ácido hialurônico.

Paciente do sexo masculino, 66 anos, refere eritema e equimose no membro inferior esquerdo 24 horas após injeção intramuscular (glúteo esquerdo) de diclofenaco sódico por dor abdominal. Houve rápida progressão para bolhas tensas em todo o membro, com dor intensa e edema.

Após quatro dias, o paciente procurou o pronto‐socorro apresentando áreas purpúricas de aspecto retiforme em todo o membro inferior esquerdo, bolhas tensas de conteúdo serossanguinolento e áreas de exulceração (fig. 1A).

Figura 1.

(A) Bolhas violáceas, retiformes com áreas de descolamento cutâneo em coxa e perna. Notam‐se também áreas de necrose com halo eritematoso. (B) Progressão das áreas de necrose sete dias após início do quadro

(0.34MB).

A hipótese de SN por uso intramuscular de diclofenaco sódico foi aventada. A investigação laboratorial para vasculite sistêmica com FAN, anti‐DNA, ENA, crioglobulinas e complemento resultou negativa.

Houve piora das lesões (fig. 1B). O paciente foi transferido para unidade de terapia intensiva e recebeu antibioticoterapia parenteral (vancomicina e meropeném). Após estabilização clínica, foram realizadas sessões de desbridamento cirúrgico (fig. 2) com posterior enxertia (fig. 3). Após três meses de quatro abordagens cirúrgicas para debridamento e enxertos, o paciente recebeu alta com bom estado geral.

Figura 2.

Após 30 dias, no pós‐operatório de primeiro desbridamento cirúrgico na coxa esquerda (A) e perna esquerda (B)

(0.21MB).
Figura 3.

Três meses após o início do quadro, o paciente apresenta boa recuperação estética e funcional na coxa (A) e quadril direitos e perna e dorso de pé direitos (B) após múltiplos enxertos

(0.27MB).

A SN foi descrita pela primeira vez em 1924, após injeção intraglútea de sais de bismuto para o tratamento da sífilis. Ocorre após injeção intramuscular de substâncias insolúveis, mais frequentemente com penicilina benzatina e AINEs (como o diclofenaco).1 Casos induzidos por diclofenaco são mais frequentes em mulheres, enquanto casos por penicilina são mais comuns em crianças.2

Teorias sobre sua etiopatogenia envolvem combinação de fatores: estimulação da inervação simpática com vasoespasmo e isquemia; bloqueio da síntese de prostaglandinas por AINEs, oclusão embólica arterial por injeção intravascular inadvertida; inflamação perivascular por reação citotóxica ao fármaco; injúria mecânica causada por substâncias lipofílicas ao penetrar nos vasos.2,3

O quadro clínico é de mácula eritematosa com rápida evolução para mancha violácea livedoide. O início é geralmente súbito com relação à injeção, porém pode ser tardio, muitas vezes sem lesão no local injetado.4 O prognóstico é imprevisível, com recuperação e cicatriz atrófica no local acometido até relatos de síndrome compartimental, hipercalemia, insuficiência renal, paralisia do membro acometido e morte.3,5 O diagnóstico é clínico, altamente sugestivo quando lesões se iniciam no ponto de injeção com progressão distal no membro injetado. O exame histopatológico é inespecífico, podendo revelar necrose de tecido adiposo e inflamação.5

Não há tratamento específico; são empregados analgesia, tratamento de infecção secundária e desbridamento cirúrgico.1 A técnica correta de aplicação intramuscular pode reduzir o risco da patologia.4 O método de injeção em Z‐track é recomendado, com a tração da pele e do tecido subcutâneo antes da inserção da agulha, garantindo bloqueio do caminho da agulha após a injeção.1

Apesar de rara, a SN pode ser extensa e grave. Médicos devem conhecê‐la, estar atentos à técnica correta de injeção e evitar prescrições desnecessárias pela via intramuscular.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Rafael Oliveira Amorim: Redação do artigo e revisão crítica do conteúdo intelectual importante; desenho do estudo em conjunto com coautores; revisão crítica da literatura; aprovação final da versão final do manuscrito.

Alana Luísa Calixto Carlos da Silva: Redação do artigo e revisão crítica do conteúdo intelectual importante; desenho do estudo em conjunto com coautores; aprovação final da versão final do manuscrito.

Camila Arai Seque: Redação do artigo e revisão crítica do conteúdo intelectual importante; desenho do estudo em conjunto com coautores; aprovação final da versão final do manuscrito.

Adriana Maria Porro: Redação do artigo e revisão crítica do conteúdo intelectual importante; desenho do estudo em conjunto com coautores; aprovação final da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
[1]
P.F. Lardelli, L.M.M. Jermini, G.P. Milani, G.G.A.M. Peeters, G.P. Ramelli, L. Zgraggen, et al.
Nicolau syndrome caused by non‐steroidal anti‐inflammatory drugs: Systematic literature review.
Int J Clin Pract., 74 (2020), pp. e13567
[2]
H. Aktas, O.E. Yılmaz, G. Ertugrul, E. Terzi.
Intramuscular diclofenac is a cause of Nicolau syndrome in obese women: An observational study of consecutive ten patients.
Dermatol Ther., 33 (2020), pp. e13392
[3]
B. Shelley, P. Prasad, M. Manjunath, S. Chakraborti.
Hyperacute paraplegia and neurovascular (immuno vasculotoxic) catastrophe of nicolau syndrome: Primum non nocere.
Ann Indian Acad Neurol., 22 (2019), pp. 104
[4]
A.M.M. Silva, A. Ton, T.F. Loureiro, B.L. Agrizzi.
Late development of Nicolau syndrome ‐ Case report.
An Bras Dermatol., 86 (2011), pp. 157-159
[5]
F. Marcus, E.V. Claude, M. Josephine, A. Teyang.
An exceptional cause of acute limb ischemia: Nicolau syndrome‐single‐center experience with 4 cases.
Ann Vasc Surg., 58 (2019), pp. 383

Como citar este artigo: Amorim RO, Silva AL, Seque CA, Porro AM. Extensive Nicolau syndrome following intramuscular diclofenac sodium injection. An Bras Dermatol. 2024;99:123–5.

Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.

Copyright © 2023. Sociedade Brasileira de Dermatologia
Baixar PDF
Idiomas
Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
Opções de artigo
Ferramentas
en pt
Cookies policy Política de cookies
To improve our services and products, we use "cookies" (own or third parties authorized) to show advertising related to client preferences through the analyses of navigation customer behavior. Continuing navigation will be considered as acceptance of this use. You can change the settings or obtain more information by clicking here. Utilizamos cookies próprios e de terceiros para melhorar nossos serviços e mostrar publicidade relacionada às suas preferências, analisando seus hábitos de navegação. Se continuar a navegar, consideramos que aceita o seu uso. Você pode alterar a configuração ou obter mais informações aqui.