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Vol. 99. Núm. 6.
Páginas 922-927 (1 novembro 2024)
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Cartas ‐ Investigação
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Guselcumabe, risanquizumabe e tildraquizumabe demonstram eficácia e segurança semelhantes no tratamento da psoríase: estudo comparativo direto na prática clínica
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Miguel Mansilla‐Poloa,b,
Autor para correspondência
miguel_yecla96@hotmail.com

Autor para correspondência.
, Antonio Sahuquillo‐Torralbaa,b, Conrad Pujol‐Marcoa,b, Guillermo Bargues‐Navarroa,b, Rafael Botella‐Estradaa,b,c
a Departamento de Dermatologia, Hospital Universitario y Politécnico La Fe, Valência, Espanha
b Departamento de Dermatologia, Instituto de Investigación Sanitaria La Fe (IIS La Fe), Valência, Espanha
c Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universidad de Valencia, Valência, Espanha
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Tabela 1. Descrição da amostra e variáveis de desfecho não incluídas na figura 1
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Prezado Editor,

Tradicionalmente, o tratamento da psoríase depende do emprego de medicamentos tópicos e medicamentos clássicos, como metotrexato, acitretina ou ciclosporina, com resultados variados e numerosos efeitos colaterais. No entanto, nos últimos anos, o surgimento de terapias biológicas e de pequenas moléculas revolucionou seu tratamento.1 Dentre os agentes biológicos, os inibidores da interleucina (IL)‐23 desempenham papel fundamental na patogênese da psoríase.2 Atualmente, há três medicamentos anti‐IL‐23 aprovados: risanquizumabe, tildraquizumabe e guselcumabe. A quantidade de estudos que avaliam esses medicamentos na prática clínica para a psoríase é limitada. Ainda mais escassos são os estudos comparativos entre as três alternativas.

Este artigo apresenta os resultados de um estudo retrospectivo unicêntrico envolvendo todos os pacientes com psoríase tratados com medicamentos anti‐IL‐23. O objetivo era descrever a resposta em termos de eficácia e segurança do risanquizumabe, tildraquizumabe e guselcumabe na prática clínica. Além disso, objetivou‐se comparar a resposta entre os três medicamentos para detectar diferenças nos resultados obtidos com as três alternativas.

Pacientes com psoríase tratados com medicamentos anti‐IL‐23 em hospital terciário entre 2015 e 2020 foram avaliados retrospectivamente, monitorados por um ano. Os resultados obtidos em 16, 24 e 48‐52 semanas foram registrados em relação à Área de Psoríase e Índice de Gravidade (PASI, do inglês Psoriasis Area and Severity Index), ASC (área de superfície corporal), Avaliação Global do Investigador (IGA, do inglês Investigator's Global Assessment) e Índice de Qualidade de Vida em Dermatologia (DLQI, do inglês Dermatology Life Quality Index), bem como os eventos adversos relatados. Foram excluídos pacientes com menos de 16 semanas de seguimento, aqueles provenientes de ensaio clínico ou aqueles em que pelo menos 50% das variáveis registradas no estudo não estavam disponíveis.

Foram incluídos 91 pacientes, dos quais 42 receberam risanquizumabe, 37 guselcumabe e 12 tildraquizumabe. A tabela 1 mostra as características basais dos três grupos, bem como algumas avaliações de resultados não incluídas na figura 1, que ilustra a evolução da resposta em termos de PASI, ASC, IGA e DLQI. Os três grupos foram comparáveis em relação às características basais e à gravidade clínica inicial da doença. A maioria dos pacientes era do gênero masculino, com idade em torno de 60 anos e com excesso de peso. Aproximadamente metade e um terço dos pacientes eram fumantes ou ex‐fumantes e etilistas ou ex‐etilistas, respectivamente. Onze por cento tinham artrite psoriásica em seguimento reumatológico, 10% tinham história de neoplasia e 7% apresentavam doença inflamatória intestinal.

Tabela 1.

Descrição da amostra e variáveis de desfecho não incluídas na figura 1

    Medicamento atual (janeiro 2024) 
    Guselcumabe(n=37)  Risanquizumabe(n=42)  Tildraquizumabe (n=12)  p‐valor 
Variáveis contínuas: mediana (primeiro‐terceiro quartis)Idade (anos)  61 (47–67)  55 (47–64)  56,5 (49–63,5)  0,752 
Peso (kg)  77 (66,5–88,5)  85 (70–95)  80,5 (71–93,75)  0,283 
Tamanho (cm)  171 (161–178)  170 (162,3–175)  165 (163,5–179,5)  0,923 
Índice de massa corporal (kg/m225,84 (23,99–29,13)  29,33 (25,14–33,70)  28,12 (23,91–32,13)  0,116 
Número de medicamentos biológicos anteriores ao atual medicamento inibidor da interleucina (IL)‐23  1 (1–2)  1 (1–2)  1 (0–1)  0,245 
Número de anos com psoríase até o atual medicamento inibidor de IL‐23  12 (9–20,5)  14,5 (8,5–21,5)  12 (8,5–16)  0,705 
Variáveis categóricas: número de pacientes (% do total de cada medicamento)GêneroHomens: 20 (54%)  Homens: 23 (55%)  Homens: 7 (58%)  0,967
Mulheres: 17 (46%)  Mulheres: 19 (45%)  Mulheres: 5 (42%) 
TabagismoNão fumante: 16 (43%)  Não fumante: 16 (41%)  Não fumante: 4 (36%)  0,522
Ex‐fumante: 6 (16%)  Ex‐fumante: 2 (5%)  Ex‐fumante: 2 (18%) 
Fumante atual: 15 (41%)  Fumante atual: 21 (54%)  Fumante atual: 5 (45%) 
EtilismoNão etilista: 27 (73%)  Não etilista: 34 (81%)  Não etilista: 8 (67%)  0,412
Ex‐etilista: 2 (5%)  Ex‐etilista: 0 (0%)  Ex‐etilista: 0 (0%) 
Etilista atual: 8 (22%)  Etilista atual: 8 (19%)  Etilista atual: 4 (33%) 
Hipertensão arterialNão: 24 (65%)  Não: 28 (67%)  Não: 11 (92%)  0,196
Sim: 13 (35%)  Sim: 14 (33%)  Sim: 1 (8%) 
Diabetes mellitusNão: 26 (70%)  Não: 32 (76%)  Não: 10 (83%)  0,596
Sim: 11 (30%)  Sim: 10 (24%)  Sim: 2 (17%) 
DislipidemiaNão: 21 (57%)  Não: 25 (60%)  Não: 6 (50%)  0,840
Sim: 16 (43%)  Sim: 17 (42%)  Sim: 6 (50%) 
Esteatose hepáticaNão: 12 (52%)  ‐ Não: 4 (17%)  Não: 5 (56%)  0,032a
Sim: 11 (48%)  Sim: 19 (83%)  Sim: 4 (44%) 
Artrite psoriásicaNão: 29 (78%)  Não: 39 (93%)  Não: 12 (100%)  0,069
Sim: 8 (22%)  Sim: 3 (7%)  Sim: 0 (0%) 
Doença inflamatória intestinalNão: 36 (97%)  Não: 36 (86%)  Não: 12 (100%)  0,112
Sim: 1 (3%)  Sim: 6 (14%)  Sim: 0 (0%) 
História de neoplasiaNão: 32 (86%)  Não: 38 (90%)  Não: 11 (92%)  0,895
Sim: 5 (14%)  Sim: 4 (10%)  Sim: 1 (8%) 
Envolvimento do couro cabeludoNão: 17 (47%)  Não: 22 (54%)  Não: 6 (55%)  0,829
Sim: 19 (53%)  Sim: 19 (46%)  Sim: 5 (45%) 
Comprometimento unguealNão: 36 (100%)  Não: 39 (95%)  Não: 8 (89%)  0,331
Sim: 0 (0%)  Sim: 2 (5%)  Sim: 1 (11%) 
Envolvimento genitalNão: 31 (86%)  Não: 36 (88%)  Não: 7 (78%)  0,816
Sim: 5 (14%)  Sim: 5 (12%)  Sim: 2 (22%) 
Acometimento de dobras cutâneasNão: 23 (62%)  Não: 28 (68%)  Não: 5 (50%)  0,585
Sim: 14 (38%)  Sim: 13 (32%)  Sim: 5 (50%) 
Utilização de medicamentos biológicos antes do inibidor atual de IL‐23Não: 8 (22%)  Não: 8 (19%)  Não: 4 (33%)  0,612
Sim: 29 (78%):  Sim: 34 (81%):  Sim: 8 (67%): 
• Etanercepte: 3 (8%)  • Etanercepte: 3 (9%)  • Etanercepte: 2 (17%) 
• Adalimumabe: 17 (46%)  • Adalimumabe: 12 (35%)  • Adalimumabe: 6 (50%) 
• Infliximabe: 0  • Infliximabe: 3 (9%)  • Infliximabe: 0 (0%) 
• Ustequinumabe: 4 (24%)  • Ustequinumabe: 5 (12%)  • Ustequinumabe: 0 (0%) 
• Secuquinumabe: 8 (22%)  • Secuquinumabe: 13 (31%)  • Secuquinumabe: 0 (0%) 
• Ixequizumabe: 3 (8%)  • Ixequizumabe: 3 (9%)  • Ixequizumabe: 0 (0%) 
• Brodalumabe: 2 (5%)• Brodalumabe: 7 (17%)• Brodalumabe: 0 (0%) 
• Guselcumabe: 0 (0%) 
• Tildraquizumabe: 0 (0%) 
• Risanquizumabe: 0 (0%) 
Variáveis de resultado não incluídas nas figurasbResposta do couro cabeludo (em pacientes com envolvimento do couro cabeludo)Não: 0 (0%)  Não: 2 (12%)  Não: 1 (20%)  0,353
Sim: 16 (100%)  Sim: 14 (88%)  Sim: 4 (80%) 
Resposta ungueal (em pacientes com envolvimento ungueal)Não se aplica  Não: 0 (0%)  Não: 0 (0%)  Não calculável
  Sim: 2 (100%)  Sim: 1 (100%) 
Resposta genital (em pacientes com envolvimento genital)Não: 1 (20%)  Não: 1 (20%)  Não: 0 (0%)  Não calculável
Sim: 4 (80%)  Sim: 4 (80%)  Sim: 2 (100%) 
Resposta em dobras cutâneas (em pacientes com envolvimento de dobras)Não: 1 (8%)  Não: 1 (10%)  Não: 1 (20%)  0,984
Sim: 12 (92%)  Sim: 9 (90%)  Sim: 4 (80%) 
Otimização de dosagemcNão: 31 (86%)  Não: 38 (93%)  Não: 8 (67%)  0,058
Sim: 5 (14%):  Sim: 3 (7%):  Sim: 4 (33%): 
• Com resposta adequada: 5 (100%)  • Com resposta adequada: 2 (67%)  • Com resposta adequada: 3 (75%) 
• Sem resposta adequada: 0 (0%)  • Sem resposta adequada: 1 (33%)  • Sem resposta adequada: 1 (25%) 
a

Após aplicação do teste de Bonferroni, não foram encontradas diferenças entre os três medicamentos.

b

A resposta foi definida como desaparecimento de pelo menos 75% das lesões anteriores (melhoria da ASC ≥ 75%).

c

Resposta adequada foi definida como, pelo menos, manutenção do PASI e ASC após otimização terapêutica (manutenção ou estabilidade). A otimização consistiu em prolongar a administração terapêutica (1, 2, 3 ou até 4 semanas dependendo do medicamento).

Figura 1.

Resultados de PASI (A), ASC (B), DLQI (C) e IGA (D). Uma tendência evidente de diminuição dos valores para todas as quatro medidas com os três medicamentos pode ser observada à medida que as semanas de observação avançam.

(0.45MB).

Melhoras rápidas e sustentadas ao longo do tempo foram observadas nas variáveis estudadas com todos os três medicamentos (PASI, ASC, DLQI, IGA, resposta ungueal, no couro cabeludo, área genital e envolvimento de pregas cutâneas), com excelente perfil de segurança (exemplo de paciente tratado com risanquizumabe pode ser visto nas figs. 2 e 3). Para a realização do estudo estatístico da figura 1, foram realizados testes de normalidade para todos os dados por meio do teste de Shapiro‐Wilk, detectando‐se a não normalidade. Portanto, para avaliar as quatro variáveis ao longo do tempo (valor basal – valor da semana 48‐52) em relação a cada um dos três medicamentos atuais, foi empregado o teste não paramétrico de Kruskal‐Wallis. Apenas dois efeitos adversos (náuseas e astenia) foram registrados em dois pacientes diferentes, ambos discretos e não claramente relacionados ao tratamento. Na comparação direta, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre os três medicamentos em relação a nenhum parâmetro, nem em termos de eficácia nem de segurança.

Figura 2.

Exemplo de paciente antes do tratamento com risanquizumabe. O acometimento era generalizado, com estadiamento inicial PASI 38,4; ASC 46% e DLQI 28.

(0.55MB).
Figura 3.

Mesmo paciente da Figura 2após seis meses de tratamento com risanquizumabe. O estadiamento aos seis meses foi PASI 1,2; ASC 2% e DLQI 4.

(0.65MB).

A IL‐23 desempenha papel crucial na ativação dos linfócitos T e na produção de outras citocinas pró‐inflamatórias, como a IL‐17. Ao inibir a IL‐23, os medicamentos anti‐IL‐23 reduzem a resposta inflamatória subjacente na psoríase, diminuindo assim a proliferação de queratinócitos e a formação de placas cutâneas características da doença.3 A eficácia e segurança dos três medicamentos anti‐IL‐23 aprovados (risanquizumabe, tildraquizumabe, guselcumabe) foram demonstradas em ensaios clínicos e na prática clínica,4–6 e os resultados do presente estudo apoiam esse fato. Dois estudos anteriores, por meio de análises de comparação indireta, sugerem que as três alternativas seriam comparáveis em termos de eficácia e segurança, embora sugiram que o tildraquizumabe possa ter eficácia ligeiramente inferior.7,8 Um estudo recente (que seja de conhecimento dos autores, o único até o momento) comparando os diferentes medicamentos anti‐IL‐23 na psoríase argumenta que todos os três apresentam eficácia e segurança semelhantes, sem diferenças entre eles.9 Os resultados do presente estudo são semelhantes e também não foram encontradas diferenças entre os três grupos, embora o pequeno tamanho da amostra limite o poder estatístico dessa comparação e a possibilidade de análise de subgrupos (gravidade da psoríase, localização, artrite psoriásica etc.).

As principais limitações do presente estudo são o pequeno tamanho amostral, sua natureza retrospectiva e o seguimento limitado do tratamento de um ano.

Em conclusão, guselcumabe, tildraquizumabe e risanquizumabe mostraram redução ao longo do tempo nas medidas biológicas (PASI, DLQI, ASC, IGA, resposta do acometimento do couro cabeludo, ungueal, genital, de dobras cutâneas) para o tratamento da psoríase. Não foram encontradas diferenças significantes na evolução do efeito ao longo do tempo entre os diferentes tratamentos – todos os três tratamentos funcionaram igualmente. Estudos com amostras maiores são necessários para corroborar esses resultados e investigar a presença de diferenças entre os três inibidores de IL‐23 atualmente utilizados no tratamento da psoríase.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Miguel Mansilla‐Polo: Manejo de tratamentos e procedimentos clínicos, contribuindo para o desenvolvimento desse artigo, teve acesso aos dados e desempenhou um papel na redação desse manuscrito.

Guillermo Bargues‐Navarro: Manejo de tratamentos e procedimentos clínicos, contribuindo para o desenvolvimento desse artigo, teve acesso aos dados e desempenhou um papel na redação desse manuscrito.

Conrad Pujol‐Marco: Manejo de tratamentos e procedimentos clínicos, contribuindo para o desenvolvimento desse artigo, teve acesso aos dados e desempenhou um papel na redação desse manuscrito.

Rafael Botella‐Estrada: Supervisionou o trabalho, teve acesso aos dados e participou da redação desse manuscrito.

Antonio Sahuquillo‐Torrlaba: Supervisionou o trabalho, teve acesso aos dados e desempenhou um papel na redação desse manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: Mansilla‐Polo M, Sahuquillo‐Torralba A, Pujol‐Marco C, Bargues‐Navarro G, Botella‐Estrada R. Guselkumab, Risankizumab, and Tildrakizumab demonstrate parallel effectiveness and safety in psoriasis treatment: a head‐to‐head comparative study in real clinical practice. An Bras Dermatol. 2024;99:922–7.

Trabalho realizado no Hospital Universitario y Politécnico La Fe, Valência, Espanha.

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