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Vol. 99. Núm. 1.
Páginas 158-160 (1 janeiro 2024)
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Páginas 158-160 (1 janeiro 2024)
Carta ‐ Terapia
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Carcinoma espinocelular de pavilhão auricular irressecável e com metástase locorregional: relato do uso de cemiplimabe em paciente imunossuprimido
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Tatiana Ferreira Françaa, João Renato Vianna Gontijoa,b,
Autor para correspondência
joaorenatogontijo@gmail.com

Autor para correspondência.
, Eduardo Ferraz Veloso Juniorb, Enaldo Melo de Limab
a Departamento de Dermatologia, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Departamento de Dermatologia, Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG, Brasil
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Prezado Editor,

Paciente do sexo masculino, 81 anos, agricultor, portador de hipertensão arterial complicada com nefropatia e transplante renal em 2005, em uso de sirolimus, submetido a radioterapia e bloqueio hormonal em 2017 para câncer de próstata. História pregressa de múltiplos carcinomas basocelulares e carcinomas espinocelulares (CECs). Evoluiu com CEC moderadamente diferenciado, ulcerado e infiltrante no pavilhão auricular direito (fig. 1A) considerado irressecável por recidiva após quatro abordagens cirúrgicas, com acometimento de pericôndrio, linfonodos cervicais e glândulas salivares evidenciados por exame anatomopatológico. Pesquisa de metástase a distância em PET‐CT foi negativa, classificado como T3N2bM1. O paciente fez uso de cemiplimabe, 350mg endovenoso a cada 21 dias e 20 sessões de radioterapia (RT), 20 frações de 250 cGy, dose total 50Gy, no tumor e pavilhão auricular, com involução completa em quatro meses da neoplasia (fig. 1B) e do acometimento regional, avaliados clinicamente e por novo PET‐CT, não apresentando efeitos adversos à medicação. Apresentou progressão do câncer prostático, confirmado por anatomopatológico, evoluindo a óbito 14 meses após o uso do cemiplimabe.

Figura 1.

(A) Extensa lesão tumoral acometendo pavilhão auricular e estruturas adjacentes. (B) Lesão cicatricial no pavilhão auricular após quatro meses de uso do cemiplimabe.

(0.45MB).

Cerca de 5% dos CECs são classificados como neoplasia avançada, quando se apresentam como localmente avançado ou metastático e não passível de cirurgia curativa e/ou radioterapia curativa.1,2 Até recentemente, a quimioterapia e inibidores do receptor do fator de crescimento epidérmico eram as únicas opções disponíveis para esses casos, com baixa eficácia, respostas não sustentadas e diversos efeitos colaterais, sendo considerados tratamentos paliativos.1

O cemiplimabe é o primeiro tratamento sistêmico aprovado para CEC que apresenta melhora da sobrevida. Trata‐se de um anticorpo IgG4 totalmente humano anti‐PD‐1.3 Uma comparação indireta de tratamentos concluiu que é a terapia sistêmica com a mais forte evidência de benefício clínico para casos avançados, com melhora da sobrevida.4

A alta carga de mutação, presente nos CECs pela exposição à radiação ultravioleta, foi associada à eficácia da inibição da PD‐1 em vários tumores sólidos avançados.1,2 Além disso, a forte relação entre imunossupressão e o risco do tumor aventa que a imunovigilância tem papel importante no controle da neoplasia. Abordagens para melhorar o sistema imunológico antitumoral podem ser eficazes.1

A PD‐1 é proteína inibitória transmembrana presente em células imunes. Seu bloqueio aumenta a atividade antitumoral das células‐T, promovendo controle imunológico e morte das células cancerígenas.3

Não é possível determinar precisamente o efeito isolado do inibidor de PD‐1 no caso descrito pelo uso concomitante da RT. Porém, houve resolução das linfonodomegalias cervicais que não foram irradiadas, possivelmente pelo efeito da medicação. Nos estudo de fase 2 com pacientes com CEC localmente avançado, 55% deles também foram submetidos à radioterapia previamente ao início da medicação.1

O advento de novos fármacos para o tratamento de neoplasias cutâneas se mostra promissor, com evidência de efeito clinicamente significante, perfil de segurança e tolerabilidade aceitáveis em pacientes com CEC avançado não candidatos a cirurgia ou RT.5 Estudos de longo prazo que incluam imunossuprimidos são necessários para avaliar os desfechos nesses pacientes e determinar sua eficácia e efeitos colaterais nessa população.

Suporte financeiro

Nenhum.

Contribuição dos autores

Tatiana Ferreira França: Redação do artigo; revisão crítica do conteúdo intelectual importante e aprovação final da versão final do manuscrito.

João Renato Vianna Gontijo: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; redação do artigo; revisão crítica do conteúdo intelectual importante e aprovação final da versão final do manuscrito.

Eduardo Ferraz Veloso Junior: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; redação do artigo; revisão crítica do conteúdo intelectual importante e aprovação final da versão final do manuscrito.

Enaldo Melo de Lima: Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; redação do artigo; revisão crítica do conteúdo intelectual importante e aprovação final da versão final do manuscrito.

Conflito de interesses

Nenhum.

Referências
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Como citar este artigo: França TF, Gontijo JRV, Junior EFV, Lima EM. Unresectable auricular squamous cell carcinoma with locoregional metastasis: use of cemiplimab in an immunosuppressed patient. An Bras Dermatol. 2024;99:158–60.

Trabalho realizado no Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG, Brasil.

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Anais Brasileiros de Dermatologia (Portuguese)
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