Apesar de a psoríase ser doença com prevalência considerável em nossa população, seu acometimento oral isolado é raro. A histopatologia da psoríase oral foi descrita inicialmente em 1903, por Oppenheim,1 e ao longo dos anos mais alguns relatos enriqueceram a literatura.2–4 A diversidade de apresentações clínicas e a eventual ocorrência isolada, sem associação com lesões cutâneas, são fatores que dificultam o diagnóstico.2,3 Relatamos um caso de psoríase na língua sem acometimento cutâneo associado.
Paciente do sexo feminino, de 45 anos, previamente hígida, dentista, queixou‐se de placa esbranquiçada na língua há três meses, com aumento progressivo, sem resposta ao uso de triancinolona acetonida orobase por curtos períodos ou ao uso de nistatina. A paciente apresentava língua geográfica antes do surgimento da placa. Etilista, negava história familiar ou pregressa de psoríase, medicamentos de uso contínuo ou tabagismo. O exame físico revelou placas esbranquiçadas nas laterais da língua (fig. 1); não havia evidências de lesões cutâneas ou nos fâneros. O exame anatomopatológico (fig. 2) evidenciou mucosa escamosa apresentando epitélio hiperplásico com alongamento de cristas interpapilares, paraceratose e exocitose de neutrófilos com formação de microabscessos de Munro. A lâmina própria exibia infiltrado inflamatório predominantemente linfocítico, congestão e edema. A pesquisa de fungos foi negativa, compatível, portanto, com o diagnóstico de psoríase na língua. A paciente foi tratada com suspensão do etilismo e betametasona elixir três vezes ao dia e apresentou boa evolução do quadro após seis meses de tratamento (fig. 3).
A psoríase é doença multifatorial e crônica, de etiologia ainda não completamente elucidada. Os achados de mucosa oral mais comuns são a língua fissurada e a língua geográfica, ocasionalmente como manifestação isolada.2–4 Outras possíveis apresentações clínicas são placas branco‐amareladas ou circinadas com histopatologia compatíveis com psoríase.2,3 Comumente, a psoríase oral é confundida com outras doenças mais comuns, como líquen plano, candidíase e sífilis, o que torna seu diagnóstico mais desafiador.2 Nos casos de lesão oral isolada, a suspeita clínica deve sempre ser confirmada por exame anatomopatológico.
A histopatologia é similar à da psoríase cutânea, cujos achados epidérmicos são secundários à hiperproliferação de queratinócitos: hiperceratose, paraceratose e hipogranulose, além de acantose com alongamento de cristas interpapilares. Dois achados típicos, decorrentes da exocitose de neutrófilos, são o acúmulo estéril na camada córnea (microabscesso de Munro) e na camada espinhosa (pústula espongiforme de Kogoj). A porção superficial da derme, mais comumente, exibe infiltrado inflamatório linfo‐histiocitário e vasos sanguíneos congestos e tortuosos.5
Possíveis terapias são anestésicos tópicos, como lidocaína ou corticoides tópicos, assim como medidas comportamentais, como evitar irritantes como álcool, alimentos apimentados, abrasão por próteses dentárias e tabagismo.2 Eventualmente, o tratamento sistêmico pode ser necessário.
Apresentamos um caso de psoríase oral em paciente sem lesões cutâneas, mas com lesão oral prévia de língua geográfica. Foi necessária análise histológica para confirmação do diagnóstico, e a paciente teve boa resposta à terapêutica tópica. A psoríase oral isolada é rara e possivelmente subdiagnosticada. É importante que o dermatologista conheça essa entidade, principalmente como diagnóstico diferencial de outras doenças mais prevalentes. A paciente segue em acompanhamento periódico semestral.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresLucas Campos Garcia: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Nicole Vieira Schwan: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Jésus Faria Rosa Júnior: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Andrea Machado Coelho Ramos: Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Garcia LC, Schwan NV, Rosa Júnior JF, Coelho Ramos AM. Plaque psoriasis on the tongue: case report. An Bras Dermatol. 2025;100. https://doi.org/10.1016/j.abd.2024.01.008.
Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil.