Os Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD), publicação oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia, são publicados desde 1925. Os ABD são considerados o periódico dermatológico mais influente da América Latina. Em 2025, o periódico apresenta um marco significante, celebrando um século de história. Ao longo desse tempo, publicou 99 volumes e 6.299 contribuições de mais de 10.800 autores. Para analisar a trajetória do periódico, este estudo emprega abordagem de pesquisa aplicada caracterizada por objetivos descritivos e natureza quantitativa. Esta pesquisa foi baseada em procedimento documental que abrangeu todas as contribuições já publicadas no periódico. O principal objetivo do estudo foi identificar os autores mais proeminentes que contribuíram para o periódico e mapear as maiores comunidades de coautoria. Espera‐se que esta pesquisa sirva como reconhecimento formal dos pesquisadores que escreveram a história dos ABD.
Os Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD) são uma publicação científica autorizada e endossada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Os ABD se destacam como um dos principais periódicos especializados na área de Dermatologia, conquistando reconhecimento não apenas no Brasil, mas também em escala internacional.1 Criado em 1925, o periódico se manteve firme em seu compromisso de disseminar o conhecimento científico e promover o progresso da Dermatologia. Abrangendo uma gama diversificada de tópicos sobre a saúde da pele, cabelo e unhas, os ABD continuam a ser recurso essencial para o avanço da compreensão da ciência dermatológica. Alcançar o marco de um século de contribuições estimula a reflexão sobre o passado e o reconhecimento dos pesquisadores que ajudaram a escrever essa história de sucesso. Além disso, com 99 volumes publicados, o periódico registra a evolução da Dermatologia no Brasil.
Analisar a história de um periódico em marcos significativos é prática comum na literatura. O Journal of Dental Research passou por análise bibliométrica cobrindo seus 100 anos de história e o estudo identificou os 100 artigos mais citados desse período. Os achados destacam o amplo impacto do periódico e revelam mudanças nos padrões de citação e prioridades de pesquisa ao longo do último século.2 Do mesmo modo, o Journal of Prosthetic Dentistry foi submetido a análise bibliométrica abrangente para examinar suas características ao longo de um período de 50 anos, de 1970 a 2019. Dos 11.989 registros recuperados, 10.638 (92,9%) foram incluídos na análise.3 Da mesma maneira, durante seus 20 anos de história, o periódico Centro de Ciências da Economia e Informática (CCEI) foi analisado, o que inclui todos os 420 artigos publicados. O estudo identificou os autores mais influentes e suas comunidades de pesquisa associadas.4 De maneira análoga, o periódico Arquivos Catarinenses de Medicina foi analisado, abrangendo todos os 1.173 artigos publicados desde seu início, há 65 anos. O estudo identificou os autores mais proeminentes e suas principais comunidades de pesquisa.5 Para avaliar o status atual e as tendências de pesquisa em diagnóstico de cárie, 816 documentos publicados entre 2013 e 2021 foram analisados no banco de dados Web of Science Core Collection. O estudo teve como objetivo realizar análise bibliométrica para identificar pesquisadores, organizações, países ou regiões contribuintes e periódicos, bem como examinar co‐ocorrência de palavras‐chave e redes de coautoria.6
Paralelamente, outros estudos usam a Análise de Redes Sociais (SNA, do inglês Social Network Analysis) para obter visão mais profunda sobre a estrutura de colaboração entre os autores. Na educação médica, reconhece‐se que a SNA é subutilizada. Entretanto, argumenta‐se que o método tem potencial significante, oferecendo informações valiosas que podem aprimorar as experiências e os resultados de médicos em treinamento e educadores, beneficiando, em última análise, os pacientes.7 A SNA também foi empregada para detectar as redes de coautoria e o mapa científico dos resultados de pesquisa em ensino clínico e educação médica. A pesquisa examinou 1.229 publicações sobre ensino clínico abrangendo um período de 40 anos, de 1980 a 2018.8
Os ABD têm sido objeto de estudos envolvendo métricas de importância, mas os estudos se concentraram em indicadores de impacto de periódicos, sem abordar aspectos relacionados às métricas de autores. Foi feita análise da trajetória dos ABD ao longo de uma década, de 2013 a 2022, e comparados os principais índices bibliométricos com os de periódicos médicos dermatológicos brasileiros e internacionais.9 Anteriormente, foram investigadas as tendências dos principais indicadores bibliométricos dos ABD de 2010 a 2019.10
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é analisar a história centenária dos ABD, identificando seus colaboradores mais proeminentes e mapeando as maiores comunidades de coautoria.
Material e métodosEste estudo é uma pesquisa aplicada com objetivo descritivo e natureza quantitativa. Envolveu procedimento documental realizado nos websites dos ABD. Esta seção delineia os métodos empregados no estudo, abrangendo o processo de coleta de dados, a criação do banco de dados, a geração da rede de coautoria e o cálculo das métricas de autoria.
Conjunto de dadosOs dados foram coletados por meio da técnica de web scraping, que permitiu a extração de dados de websites.11 Para automatizar esse processo, foi implementado um scraper para baixar os dados de todas as edições publicadas disponíveis no antigo site do periódico (http://www.anaisdedermatologia.com.br/edicoes‐anteriores). O scraper foi executado em 24 de dezembro de 2024, às 15:56, realizando cópia completa dos dados públicos do site naquele momento. Foram baixados dados do volume 1, edição 1 (1925) ao volume 95, edição 6 (2020), abrangendo 96 anos de história do periódico. Os dados do novo site do periódico (https://www.sciencedirect.com/journal/anais‐brasileiros‐de‐dermatologia/issues) foram baixados manualmente, abrangendo do volume 96, edição 1 (2021) ao volume 99, edição 6 (2024). Essas etapas envolveram o download de 99 volumes, abrangendo um total de 6.299 contribuições, que incluem relatos de casos, revisões, editoriais e artigos completos.
Posteriormente, os dados baixados passaram por pré‐processamento para extrair os nomes dos autores de cada trabalho, identificando 22.200 autores. Um problema comum é determinar o impacto em nomes duplicados, que podem surgir de inconsistências nos nomes usados ou mudanças de nome.12 Nesse sentido, a terceira etapa envolveu o emprego do algoritmo de Levenshtein (https://www.rdocumentation.org/packages/utils/versions/3.6.2/topics/adist) para calcular a distância entre os nomes, revelando vários autores cujos nomes foram escritos de modo diferente. Por exemplo, o autor Rubem David Azulay teve seu nome escrito das seguintes maneiras alternativas: R. D. Azulay, Dr. Rubem D. Azulay, Rubem D. Azulay e Ruben D. Azulay. Após padronizar os nomes dos autores, o número de autores distintos foi reduzido de 22.200 para 10.829. Esse protocolo para padronizar nomes foi aplicado em estudos semelhantes.5,13
Computando a relevância dos autoresPor fim, o grafo da rede de colaboração foi gerado e as métricas dos autores foram computadas utilizando a ferramenta Gephi (https://gephi.org/). O conceito de grafos é fundamental para entender a SNA. Grafo é uma representação abstrata de um conjunto de objetos e suas relações.14 Neste trabalho, os objetos são os autores e as relações são interações de coautoria. Os conceitos‐chave de grafos para SNA incluem: 1) os nós representam cada autor que publicou no periódico; 2) as arestas representam relacionamentos de coautoria que ocorreram no mesmo artigo; 3) o grafo representa a estrutura de coautoria entre todos os autores do periódico ao longo de seus 99 anos; 4) o grafo é do tipo não direcionado, pois a ordem dos autores em cada artigo não foi considerada; e 5) os pesos das arestas representam o número de coautorias entre dois autores vinculados.
Neste estudo, com base na teoria dos grafos,14 que serve como base teórica para a SNA, as seguintes métricas foram calculadas para os autores:
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Número de publicações (Pub): essa métrica reflete o número total de publicações nas quais o autor participou, independentemente de sua posição entre os coautores.
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Grau (Deg): essa métrica indica quantos autores diferentes colaboraram em trabalhos em coautoria com o autor. A importância do grau em uma rede de coautoria reside em sua capacidade de revelar o comportamento colaborativo e os padrões da rede de autores dentro de uma comunidade de pesquisa. Autores de alto grau são frequentemente centros bem conectados dentro da comunidade de pesquisa e podem ter influência significante sobre o fluxo de informações, ideias e colaborações dentro de seu campo.15
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Centralidade de intermediação (BC): essa métrica indica a relevância de um autor como conexão entre diferentes grupos de pesquisa.16 Elementos com alta centralidade de intermediação podem ser considerados atores‐chave ou influenciadores dentro do sistema de saúde.17 Esses nós podem representar hospitais, provedores de saúde ou doenças que desempenham papel crucial na disseminação de informações, encaminhamentos de pacientes ou disseminação de doenças. Essa métrica também é reconhecida como medida robusta para identificar os genes mais relevantes, tornando‐os candidatos potenciais para fins de direcionamento de medicamentos.18,19
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PageRank (PR): desenvolvida pelo Google, essa métrica foi projetada para determinar a ordem em que as páginas da web são exibidas aos usuários durante as pesquisas. Recentemente, essa métrica tem sido usada para identificar pesquisadores influentes em redes de citações.20,21 No presente trabalho, a PR é utilizada para identificar autores que ocupam posições de liderança na comunidade dos ABD.
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Comunidade (Com): a identificação de comunidades de coautoria foi conduzida usando o método de Louvain.22 O número da comunidade indica sua posição na classificação das maiores comunidades, de modo que a comunidade 1 é a maior em termos de número de membros, a comunidade 2 é a segunda maior e assim por diante.
A tabela 1 exibe os autores que tiveram pelo menos 31 publicações nos ABD. Esse limite possibilitou a seleção dos 50 principais autores com o maior número de publicações, representando 0,46% dos 10.829 autores do periódico. O número total de publicações dos 50 principais autores é de 2.550, de um total de 6.299 publicações dos ABD até sua 99ª edição. Esses números destacam a importância dos 50 principais autores.
Classificação dos 50 principais autores
Pos. | Nome | Pub | Deg | BC | PR | Com |
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1 | Rubem David Azulay | 161 | (2) 184 | (2) 0,043302 | (3) 0,002593 | 1 |
2 | Helio Amante Miot | 143 | (1) 266 | (1) 0,048551 | (1) 0,003699 | 5 |
3 | Silvio Alencar Marques | 105 | 114 | 0,017461 | (5) 0,002118 | 5 |
4 | Hiram Larangeira de Almeida Junior | 99 | (5) 160 | 0,018632 | (4) 0,002874 | 3 |
5 | Renan Rangel Bonamigo | 87 | (3) 179 | 0,024416 | (2) 0,002485 | 3 |
6 | Bernardo Gontijo | 78 | 95 | (4) 0,030107 | 0,001530 | 8 |
7 | Neusa Yuriko Sakai Valente | 76 | 133 | 0,012516 | 0,001980 | 6 |
8 | Nelson Guimarães Proença | 76 | 58 | 0,004664 | 0,001008 | 11 |
9 | Juan Manuel Pineiro Maceira | 63 | 158 | 0,019992 | 0,001939 | 1 |
10 | Sinesio Talhari | 62 | 100 | 0,022246 | 0,001561 | 10 |
11 | Everton Carlos Siviero do Vale | 61 | 56 | 0,007561 | 0,001060 | 8 |
12 | Paulo Ricardo Criado | 60 | 128 | 0,019865 | 0,001789 | 6 |
13 | Antonio de Souza Marques | 56 | 97 | 0,020951 | 0,001427 | 1 |
14 | Nurimar Conceição Fernandes | 53 | 101 | 0,006272 | 0,001497 | 1 |
15 | Antar Padilha Gonçalves | 50 | 9 | 0,000759 | 0,000246 | 13 |
16 | Mariangela Esther Alencar Marques | 49 | 93 | 0,003028 | 0,001346 | 5 |
17 | Antonio Pedro Mendes Schettini | 48 | 84 | 0,005235 | 0,001350 | 10 |
18 | Luiz Carlos Cuce | 48 | 63 | 0,010051 | 0,001027 | 23 |
19 | Milvia Maria Simões e Silva Enokihara | 47 | 101 | 0,009096 | 0,001413 | 15 |
20 | Sebastião A. Prado Sampaio | 47 | 43 | 0,005636 | 0,000575 | 23 |
21 | Luna Azulay Abulafia | 44 | (4) 162 | (3) 0,038265 | 0,001622 | 2 |
22 | Izelda Maria Carvalho Costa | 44 | 63 | 0,005288 | 0,000956 | 12 |
23 | Lucia Martins Diniz | 43 | 55 | 0,005028 | 0,001120 | 1 |
24 | Tancredo Alves Furtado | 42 | 45 | 0,007044 | 0,000654 | 8 |
25 | Glyne Leite Rocha | 42 | 40 | 0,001813 | 0,000705 | 1 |
26 | Alexandre Carlos Gripp | 41 | 112 | 0,016335 | 0,001218 | 2 |
27 | Leninha Valério do Nascimento | 41 | 67 | 0,005549 | 0,000769 | 2 |
28 | Rosana Lazzarini | 39 | 91 | 0,006285 | 0,001070 | 7 |
29 | Absalom Lima Filgueira | 38 | 50 | 0,008273 | 0,000664 | 1 |
30 | Tania Ferreira Cestari | 37 | 144 | 0,021105 | 0,001482 | 4 |
31 | Fabiane Andrade Mulinari Brenner | 37 | 89 | 0,012498 | 0,001173 | 9 |
32 | David Rubem Azulay | 36 | 85 | 0,010202 | 0,001165 | 2 |
33 | John Verrinder Veasey | 36 | 67 | 0,002917 | 0,000891 | 7 |
34 | Lucio Bakos | 35 | 81 | 0,008165 | 0,001021 | 3 |
35 | Luciana Patricia Fernandes Abbade | 35 | 64 | 0,005179 | 0,000892 | 5 |
36 | Omar Lupi da Rosa Santos | 34 | 94 | 0,015268 | 0,001058 | 1 |
37 | Antonio Carlos Pereira Junior | 34 | 61 | 0,004186 | 0,000812 | 1 |
38 | Francisco Eduardo Rabello | 34 | 16 | 0,000398 | 0,000183 | 1 |
39 | Demetrio Peryassu | 34 | 11 | 0,000437 | 0,000289 | 13 |
40 | Juliano Vilaverde Schmitt | 33 | 83 | 0,009619 | 0,000976 | 5 |
41 | Vitor Manoel Silva dos Reis | 33 | 72 | 0,005796 | 0,000837 | 11 |
42 | Helena Muller | 33 | 66 | 0,008979 | 0,000864 | 11 |
43 | Elemir Macedo de Souza | 33 | 50 | 0,006729 | 0,000724 | 18 |
44 | Lorivaldo Minelli | 33 | 39 | 0,003786 | 0,000732 | 21 |
45 | Mario Cezar Pires | 32 | 112 | 0,013097 | 0,001184 | 4 |
46 | Carolina Talhari | 32 | 76 | 0,022741 | 0,001040 | 10 |
47 | Monica Santos | 32 | 53 | 0,002048 | 0,000908 | 10 |
48 | Itamar Belo dos Santos | 32 | 49 | 0,003673 | 0,000917 | 14 |
49 | Carlos Baptista Barcaui | 31 | 84 | 0,010410 | 0,000937 | 1 |
50 | Adriana Maria Porro | 31 | 72 | 0,005599 | 0,000890 | 15 |
Pos, posição; Pub, publicações; Deg, Grau; BC, centralidade de intermediação; RP, PageRank; Com, comunidade.
A tabela 1 é classificada em ordem decrescente de Pub, Deg, BC e PR, indicando as respectivas comunidades de coautoria. Nas colunas Deg, BC e PR, os valores entre parênteses indicam a posição potencial do autor na classificação se a respectiva coluna fosse usada como o principal critério de ordenação. Além desses autores apresentados na classificação, foram identificados 57 autores que tiveram 20 ou mais artigos publicados, 169 autores com 10 a 19 artigos, 397 autores com cinco a nove artigos; 2.182 autores com dois a quatro artigos e 7.974 autores que participaram de um único artigo, indicando que 73,64% dos autores publicaram apenas uma vez no periódico.
Em virtude de limitações de espaço, optou‐se por restringir a análise aos cinco maiores valores de cada métrica. Assim, de acordo com o número de Pub, a importância ao longo dos 99 anos dos ABD é evidente para os cinco autores, a seguir: Rubem David Azulay (Pos=1) com 161 publicações, Helio Amante Miot (Pos=2) com 143 publicações, Silvio Alencar Marques (Pos=3) com 105 publicações, Hiram Larangeira de Almeida Junior (Pos=4), com 99 publicações, e Renan Rangel Bonamigo (Pos=5), com 87 publicações. Somente esses autores contribuíram com 595 publicações, respondendo por mais de 9,44% do total de publicações do periódico ao longo de sua história. A mediana da quantidade de artigos publicados pelos 50 autores mais bem classificados foi de 41,5 (p25–p75: 34–56), indicando um subgrupo altamente produtivo. Em contraste, o número médio geral de publicações por autor foi muito menor, 2,05±4,59, com mediana de 1 (p25–p75: 1–2). Essa disparidade substancial sugere distribuição exponencial, na qual um pequeno número de autores altamente produtivos contribuiu substancialmente para a produção total do periódico.
Em termos de Deg, que representa o número de diferentes coautores colaboradores, os seguintes autores se destacam: Helio Amante Miot (Pos=2) com 266 coautores, Rubem David Azulay (Pos=1) com 184 coautores, Renan Rangel Bonamigo (Pos=5) com 179 coautores, Luna Azulay Abulafia (Pos=21) com 162 coautores e Hiram Larangeira de Almeida Junior (Pos=4) com 160 colaborações. A mediana da quantidade de coautores entre os 50 autores mais bem classificados foi de 82 (p25–p75: 56–101). Em comparação, o número médio de coautores entre todos os autores foi de 6,2±9,29, com mediana de 4 (p25–p75: 3–6). Essa disparidade destaca as redes colaborativas mais extensas dos principais autores em comparação com o conjunto mais amplo de autores.
Os maiores valores de BC indicam autores que desempenharam papel significantemente relevante na comunicação entre diferentes comunidades de pesquisa, integrando assim várias comunidades dentro do contexto dos ABD. Nessa métrica, os seguintes autores são destacados: Helio Amante Miot (Pos=2), Rubem David Azulay (Pos=1), Luna Azulay Abulafia (Pos=21), Bernardo Gontijo (Pos=6) e Cesare Massone (Pos=283). Apesar do menor número de publicações (Pub=9), Cesare Massone, do Hospital Galliera em Gênova, Itália, atinge alto escore de BC em virtude de suas coautorias com pesquisadores do Brasil, Itália e Áustria. A mediana de BC entre os 50 principais autores classificados foi de 0,008219 (p25–p75: 0,005179–0,017461). Em contraste, a BC média entre todos os autores foi de 0,000187±0,001354 (p25–p75: 0–0). Essa diferença significante ressalta o papel central dos principais autores na conexão de vários segmentos da rede de pesquisa.
Os maiores valores de PR mostram os autores que têm papel de liderança nos ABD, provavelmente resultante de suas atividades como orientadores de novos pesquisadores nessa área. Nessa métrica, os autores mais relevantes são: Helio Amante Miot (Pos=2), Hiram Larangeira de Almeida Junior (Pos=4), Rubem David Azulay (Pos=1), Renan Rangel Bonamigo (Pos=5) e Silvio Alencar Marques (Pos=3). A mediana de PR entre os 50 principais autores classificados foi de 0,001049 (p25–p75: 0,000864–0,001482). Em contraste, o PR médio entre todos os autores foi de 9,23×10–5±1,18×10–4.
As relações entre essas métricas fornecem informações sobre o perfil dos autores mais bem classificados. Correlação positiva fraca (p=0,474) é observada entre o número de Pub e o número de coautores únicos (Deg). A razão Deg/Pub entre os 50 principais autores varia amplamente, de 0,18 a 3,89, com mediana de 1,77 (p25–p75: 1,29–2,32). Por um lado, Antar Padilha Gonçalves (Pos=15) tem razão Deg/Pub de 0,18 (9 coautores/50 publicações), refletindo sua tendência a publicar principalmente sem coautores. Padrão semelhante é observado com Demetrio Peryassu (Pos=39), cuja razão é de 0,32. Esse perfil é característico de autores que foram mais produtivos durante as primeiras décadas dos ABD e são frequentemente considerados figuras influentes na história da Dermatologia brasileira.23,24 Por outro lado, Tania Ferreira Cestari (Pos=30) tem razão Deg/Pub de 3,89, indicando colaboração com gama diversificada de coautores em suas publicações. Como outro exemplo, Luna Azulay Abulafia (Pos=21) tem razão de 3,68. Proporções mais altas são mais características de autores com produtividade recente, destacando tendência crescente na interconexão e colaboração entre pesquisadores ao longo do tempo.
Correlação positiva fraca (p=0,397) foi observada entre o número de publicações e a BC. A mediana da razão BC/Pub é 0,18×10−3 (p25–p75: 0,12×10−3 – 0,33×10–3). Francisco Eduardo Rabello (Pos=38) tem a menor razão BC/Pub em 0,011×10–3, enquanto Luna Azulay Abulafia (Pos=21) exibe a maior razão em 0,869×10–3. Essa comparação destaca ainda mais a discrepância entre autores mais antigos e mais recentes. Em contraste, correlação positiva muito forte (p=0,814) é observada entre Deg e BC, refletindo a forte interdependência entre o alcance colaborativo de um pesquisador e seu papel como conector dentro da rede.
Ao analisar a relação entre Pub e PR, correlação positiva moderada (p=0,636) é identificada. A mediana da razão PR/Pub é 0,26×10–3 (p25–p75: 0,20×10–3 – 0,29×10–3). Antar Padilha Gonçalves (Pos=15) tem a menor razão PR/Pub em 0,049×10–3, enquanto Tania Ferreira Cestari (Pos=30) exibe a maior razão em 0,40×10–3. Em contraste, correlação positiva muito forte (p=0,919) é observada entre Deg e PR. Isso indica que pesquisadores com rede colaborativa mais ampla tendem a ter valores mais altos de PR, refletindo sua centralidade e influência dentro da rede de coautoria. A forte relação ressalta a importância do alcance colaborativo na determinação da proeminência e visibilidade de um pesquisador na rede.
A figura 1 representa os 50 principais autores da classificação e suas coautorias. Essa figura representa o núcleo dos ABD. Os nós no grafo representam autores, com seu tamanho proporcional ao número de publicações. As arestas representam colaborações de coautoria, e sua espessura indica a frequência dessas colaborações. Arestas de peso mais alto geralmente destacam parcerias frequentes, sugerindo colaborações de longo prazo, projetos conjuntos ou interesses de pesquisa compartilhados. Foram identificadas 33.596 parcerias de coautoria, com as colaborações mais frequentes retratadas na figura 1. A coautoria mais frequente foi observada entre Bernardo Gontijo (Pos=6) e Everton Carlos Siviero do Vale (Pos=11), com 37 publicações conjuntas. Além disso, Silvio Alencar Marques (Pos=3) exibiu fortes laços de colaboração com Bernardo Gontijo e Everton Carlos Siviero do Vale, sendo coautores de 36 e 35 publicações, respectivamente. Em resumo, 43 coautorias foram registradas mais de 10 vezes, enquanto 3.655 coautorias ocorreram mais de uma vez. Notavelmente, quase 89% das colaborações, totalizando 29.898, ocorreram apenas uma vez.
As cores dos nós denotam as principais comunidades de coautoria, com cores exclusivas atribuídas às oito maiores comunidades. Comunidades classificadas em nono e menores são uniformemente representadas em cinza.5 Essas comunidades tipicamente refletem áreas de pesquisa especializadas ou afiliações institucionais. Notavelmente, as comunidades 1, 5, 10 e 2 juntas respondem por quase metade dos 50 principais autores classificados, com 11, cinco, quatro e quatro membros, respectivamente.
Em relação às comunidades, são destacados os autores mais relevantes dentro das maiores comunidades. Visando focar a atenção apenas nos principais autores de cada comunidade, as figuras 2 a 10 apresentam apenas autores que têm 20 ou mais publicações. Mesmo as principais redes têm membros principais, demonstrando padrão de colaboração próxima que se desenvolveu ao longo do tempo. A maior comunidade, apresentada na figura 2, com 831 membros, é liderada pelo autor Rubem David Azulay (Pos=1), professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essa comunidade contém 7,7% dos autores do periódico e 22% dos autores da classificação. A segunda maior comunidade, mostrada na figura 3, é composta por 549 autores e é liderada por Luna Azulay Abulafia (Pos=21) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A terceira maior comunidade, apresentada na figura 4, com 534 membros, é liderada por Hiram Larangeira de Almeida Junior (Pos=4), da Universidade Federal de Pelotas e Universidade Católica de Pelotas, e Renan Rangel Bonamigo (Pos=5), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. A quarta maior comunidade, apresentada na figura 5, com 422 membros, é liderada por Tania Ferreira Cestari (Pos=30), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Helio Amante Miot (Pos=2) e Silvio Alencar Marques, ambos da Universidade Estadual Paulista, lideram a quinta maior comunidade, que é composta por 349 autores, apresentada na figura 6.
Principais autores da quarta maior comunidade, composta por 350 autores, associados a diferentes instituições: Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Hospital Sírio Libanês e Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.
A sexta maior comunidade, apresentada na figura 7, contém 334 autores e é liderada por Neusa Yuriko Sakai Valente (Pos=7), da Universidade de São Paulo. A figura 8 apresenta a sétima maior comunidade, que contém 320 autores, e é liderada por Rosana Lazzarini (Pos=28), da Santa Casa de São Paulo. Bernardo Gontijo (Pos=6), da Universidade Federal de Minas Gerais, lidera a oitava maior comunidade, que contém 315 autores e é apresentada na figura 9. A nona maior comunidade, que tem 297 autores, é retratada na figura 10 e é liderada por Fabiane Andrade Mulinari Brenner, da Universidade Federal do Paraná. Essas nove principais comunidades abrangem 3.897 autores, representando 36% dos autores dos ABD.
Embora haja um autor internacional, Cesare Massone (Pos=283), entre os cinco primeiros em BC, autores internacionais estão notavelmente ausentes entre os 50 principais na classificação de 100 anos. Apesar de sua liderança na América Latina, o periódico historicamente tem se concentrado na pesquisa brasileira, com interações limitadas entre dermatologistas brasileiros e colaboradores internacionais. Além disso, publicações de autores estrangeiros ganharam destaque em períodos anteriores. Isso pode ser atribuído a mudança relativamente recente na política editorial, implementada há 20 anos, com o objetivo de ampliar a base de autores e revisores nacionais e internacionais. Esse esforço foi ainda mais apoiado pela indexação do periódico nas bases de dados LILACS desde 1981, SciELO desde 2003 e PubMed/Medline desde 2009, o que aumentou sua visibilidade e acessibilidade a um público mais amplo.1
Para avaliar o impacto das mudanças na política editorial e iniciativas destinadas a aumentar a visibilidade internacional dos ABD, foi conduzida análise separada com foco nos últimos 20 anos (tabela 2). Essa análise identificou um pesquisador internacional entre os 50 principais autores classificados: Toshiyuki Yamamoto (Pos=29), do Japão, reconhecido como notável colaborador estrangeiro. Apesar dessa inclusão, a classificação dos ABD segue predominantemente composta por pesquisadores brasileiros, que continuam a considerar o periódico uma plataforma‐chave para disseminar seu trabalho científico.
Classificação dos 50 autores principais nos últimos 20 anos (2005–2024)
Pos | Nome | Pub | Deg | BC | PR |
---|---|---|---|---|---|
1 | Helio Amante Miot | 139 | 257 | 0,059630 | 0,004793 |
2 | Silvio Alencar Marques | 85 | 87 | 0,017733 | 0,002225 |
3 | Renan Rangel Bonamigo | 75 | 169 | 0,031555 | 0,003063 |
4 | Hiram Larangeira de Almeida Junior | 70 | 122 | 0,016010 | 0,002825 |
5 | Neusa Yuriko Sakai Valente | 67 | 114 | 0,013105 | 0,002310 |
6 | Paulo Ricardo Criado | 51 | 112 | 0,029076 | 0,002058 |
7 | Bernardo Gontijo | 51 | 62 | 0,018284 | 0,001357 |
8 | Everton Carlos Siviero do Vale | 49 | 35 | 0,003428 | 0,001061 |
9 | Mariangela Esther Alencar Marques | 43 | 79 | 0,003543 | 0,001525 |
10 | Milvia Maria Simoes e Silva Enokihara | 42 | 87 | 0,009567 | 0,001639 |
11 | Antonio Pedro Mendes Schettini | 42 | 76 | 0,006204 | 0,001569 |
12 | Sinesio Talhari | 39 | 71 | 0,015011 | 0,001509 |
13 | Lucia Martins Diniz | 38 | 53 | 0,008012 | 0,001425 |
14 | Rosana Lazzarini | 36 | 87 | 0,008908 | 0,001317 |
15 | Izelda Maria Carvalho Costa | 36 | 52 | 0,006545 | 0,001131 |
16 | John Verrinder Veasey | 35 | 66 | 0,004808 | 0,001182 |
17 | Luciana Patricia Fernandes Abbade | 34 | 64 | 0,007285 | 0,001182 |
18 | Alexandre Carlos Gripp | 32 | 81 | 0,010977 | 0,001210 |
19 | Fabiane Andrade Mulinari Brenner | 31 | 74 | 0,015064 | 0,001297 |
20 | Juliano Vilaverde Schmitt | 31 | 73 | 0,008647 | 0,001194 |
21 | Carolina Talhari | 30 | 72 | 0,037232 | 0,001278 |
22 | Monica Santos | 30 | 48 | 0,002046 | 0,001116 |
23 | Luna Azulay Abulafia | 29 | 140 | 0,043686 | 0,001701 |
24 | Juan Manuel Pineiro Maceira | 29 | 89 | 0,014520 | 0,001363 |
25 | Carlos Baptista Barcaui | 29 | 83 | 0,024486 | 0,001225 |
26 | Adriana Maria Porro | 29 | 69 | 0,008886 | 0,001118 |
27 | Rute Facchini Lellis | 29 | 62 | 0,003728 | 0,001027 |
28 | Marilda Aparecida Milanez Morgado de Abreu | 27 | 61 | 0,007407 | 0,001243 |
29 | Toshiyuki Yamamoto | 27 | 18 | 0,000003 | 0,000653 |
30 | Maraya de Jesus Semblano Bittencourt | 26 | 58 | 0,005795 | 0,001145 |
31 | Fred Bernardes Filho | 24 | 67 | 0,006301 | 0,001279 |
32 | Tania Ferreira Cestari | 23 | 110 | 0,016329 | 0,001378 |
33 | Valeria Aoki | 23 | 86 | 0,011628 | 0,001230 |
34 | Ana Maria Roselino | 23 | 62 | 0,013043 | 0,001070 |
35 | Mario Cezar Pires | 22 | 94 | 0,016492 | 0,001217 |
36 | Zilda Najjar Prado de Oliveira | 22 | 87 | 0,006758 | 0,001175 |
37 | Betina Werner | 22 | 44 | 0,006083 | 0,000779 |
38 | Priscila Kakizaki | 22 | 37 | 0,000678 | 0,000771 |
39 | Magda Blessmann Weber | 21 | 84 | 0,007522 | 0,001172 |
40 | Maria de Fátima Guimarães Scotelaro Alves | 21 | 51 | 0,001566 | 0,000846 |
41 | Luciane Donida Bartoli Miot | 21 | 40 | 0,000629 | 0,000718 |
42 | Anna Carolina Miola | 21 | 38 | 0,000470 | 0,000672 |
43 | Flavia Vasques Bittencourt | 20 | 52 | 0,011120 | 0,000792 |
44 | Mariana de Figueiredo Silva Hafner | 20 | 31 | 0,000248 | 0,000625 |
45 | Vidal Haddad Junior | 20 | 26 | 0,002144 | 0,000466 |
46 | Gunter Hans Filho | 19 | 70 | 0,007991 | 0,000964 |
47 | Sergio Henrique Hirata | 19 | 65 | 0,019640 | 0,000893 |
48 | Carlos D’Apparecida Santos Machado Filho | 19 | 53 | 0,004576 | 0,000903 |
49 | Flavia Regina Ferreira | 19 | 32 | 0,003030 | 0,000786 |
50 | Rodrigo Pereira Duquia | 19 | 30 | 0,001435 | 0,000764 |
As limitações deste estudo incluem desconsiderar a ordem dos autores (p. ex., primeiro ou último autor), tipo de artigo (p. ex., relato de caso, revisão, editorial ou artigo completo) e impacto do artigo, medido pela taxa de citação. Essas limitações destacam lacunas que devem ser abordadas em pesquisas futuras examinando a influência desses fatores nos autores, comunidades de pesquisa e seus respectivos tópicos de estudo.
Por fim, seguindo as práticas de ciência aberta, os dados gerados neste trabalho, juntamente com imagens de alta resolução da rede completa e das principais comunidades de coautoria, estão disponíveis em https://github.com/sandrocamargo/publications/tree/main/abd25.
ConclusõesEste estudo analisou a história centenária do periódico ABD (1925–2024), abrangendo 99 volumes e 6.299 artigos escritos por 10.829 autores distintos. A classificação dos 50 principais autores foi construída com base em métricas incluindo Pub, Deg, BC e PR. Entre os achados, Rubem David Azulay foi reconhecido como o autor com o maior número de publicações, enquanto Helio Amante Miot emergiu como o colaborador mais influente nas outras métricas. Além disso, 73,64% de todos os autores publicaram apenas uma vez no periódico. O estudo também mapeou as principais comunidades de coautoria, detalhando seu tamanho, membros‐chave e afiliações institucionais.
Esses resultados fornecem visão geral detalhada da contribuição histórica do periódico, reconhecendo indivíduos e comunidades que moldaram significantemente seu legado ao longo de quase um século.
Suporte financeiroNenhum.
Contribuição dos autoresHelena Cargnelutti Grimaldi: Revisão crítica de conteúdo intelectual importante; interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; aprovação da versão final do manuscrito.
Sandro da Silva Camargo: Concepção e planejamento do estudo; obtenção e análise dos dados; elaboração e redação do manuscrito; aprovação da versão final do manuscrito.
Conflito de interessesNenhum.
Como citar este artigo: Grimaldi HC, Camargo SS. Anais Brasileiros de Dermatologia: who wrote this century‐old history? An Bras Dermatol. 2025;100. https://doi.org/10.1016/j.abd.2025.02.001.
Trabalho realizado no Programa de Pós‐Graduação em Computação Aplicada, Universidade Federal do Pampa, Bagé, RS, Brasil.